Em uma entrevista à emissora italiana Sky TG24 divulgada neste domingo (31), o presidente Jair Bolsonaro voltou a mentir e a distorcer fatos sobre a pandemia de covid-19, sobre o desmatamento da Amazônia e sobre a economia brasileira. Segundo o mandatário, seu governo "foi um milagre que salvou o Brasil".
Bolsonaro foi questionado pelo repórter sobre as mais de 600 mil mortes pela covid-19 e sobre o relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado, que acusou o presidente de nove crimes, inclusive de crime contra a humanidade. O jornalista ainda lembrou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva o chamou de "genocida" e então o questionou se ele "acha que errou em algo ou se são ataques políticos".
Dizendo que a CPI é composta "por partidos de esquerda na oposição ao meu governo" e que os sete senadores de oposição que lideraram os trabalhos "não fizeram nada durante a pandemia", Bolsonaro voltou a repetir que o Supremo determinou que as cidades e os estados tomassem as medidas necessárias e chamou Lula de "oportunista".
"Nós gastamos cerca de US$ 100 bilhões. Demos fundos, meios e também profissionais para combater a pandemia, além de medicamentos", disse sem citar que os remédios incentivados pelo governo tem ineficácia comprovada contra a doença. Então, o presidente citou a Petrobras no meio da resposta e disse que Lula "quase fez nossa maior empresa petrolífera falir". "Um milagre salvou o Brasil: a nossa chegada em 2018", pontuou ainda.
O jornalista também pergunta sobre o G20, que abordou a crise climática, a pandemia e a retomada econômica. Bolsonaro disse que o a reunião do grupo, da qual ele participou apenas no primeiro dia, "se concentrou sobretudo na pandemia" e que vários países disseram que produzirão e doarão vacinas.
Citando que a campanha de vacinação no Brasil está "andando bem", Bolsonaro ainda falou que seu governo "sempre foi a favor da vacina". Mais uma vez, o presidente omitiu a demora na compra dos imunizantes em 2020 e suas recorrentes declarações contra os imunizantes - ele inclusive está banido do YouTube por ter falado em vídeo que as fórmulas "causam Aids". Também não disse que ainda não se vacinou - e nem pretende se proteger -, mas voltou a defender remédios ineficazes.
"Todavia acredito que os médicos devam ter autonomia sobre como tratar os pacientes e sobre quais os remédios devem escolher ou para cuidar", reafirmou, sendo que, até hoje, não há remédios que previnem a doença.
Na mesma resposta, o mandatário voltou a distorcer os números sobre o desmatamento da Amazônia. Dizendo que o Brasil emite "só 7%" dos gases poluentes, Bolsonaro disse que "infelizmente, há uma posição muito crítica contra mim sobre a Amazônia" e voltou a repetir o que disse na Assembleia das Nações Unidas em 2019.
"A Amazônia não pega fogo porque é uma floresta úmida. O que pega fogo são as áreas periféricas, onde há desmatamento ilegal que nós combatemos. Fazemos tão bem isso que a imprensa não fala mais nada sobre isso", disse ao repórter.
No entanto, na última quinta-feira (28), um relatório do Observatório do Clima com dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) mostrou que, em 2020, o Brasil teve uma alta de 9,5% em suas emissões. O mundo, por conta da pandemia, teve uma queda de 7% nos índices.
Conforme o documento, amplamente divulgado na mídia, a alta foi causada pelas queimadas na Amazônia e no Cerrado. O texto ressalta que o "desmonte da fiscalização ambiental e de descontrole sobre crimes como grilagem, garimpo e extração ilegal de madeira no governo Bolsonaro" provocou uma alta expressiva no desmatamento da Amazônia, atingindo 10.851 quilômetros quadrados de área.
A última pergunta foi sobre a crise econômica e sobre a atual quantidade de desempregados no Brasil. O repórter questionou qual seria a mensagem do Brasil para os outros grandes do planeta e quais as soluções para "um novo começo".
"Acredito que fui o único chefe de Estado do mundo contra ao lockdown e ao confinamento", disse orgulhoso. Conforme Bolsonaro, a decisão dos governadores e prefeitos de determinar fechamentos - o Brasil nunca teve lockdown como o realizado em países europeus - "piorou a situação" e "as consequências a gente vê agora". E terminou com mais uma frase deturpada. "Quero dizer que o Brasil enfrentou a crise pandêmica e é o país que mais está crescendo na fase pós-pandemia", finalizou.
Segundo um estudo divulgado no início do mês pelo Banco Mundial, a economia brasileira deve crescer 5,3% este ano, um ponto percentual a menos do que a média dos países latino-americanos e caribenhos para o mesmo período. Para 2022 e 2023, a instituição estima que o Brasil deve crescer 1,7% e 2,5%, respectivamente, contra 2,8% e 2,6% na América Latina e Caribe.