Até o momento, três partidos do Centrão já indicaram aliados para assumir cargos no governo Jair Bolsonaro. Conforme mostrou o Estadão, na mesa de negociações está o controle de órgãos cujo orçamento total soma R$ 78,1 bilhões neste ano.
O movimento faz parte de uma tentativa do presidente de fortalecer sua base de apoio no Congresso Nacional e se blindar de um eventual processo de impeachment. Bolsonaro já chamou as práticas do Centrão de "velha política", mas recorreu ao "toma lá, dá cá" diante da escalada da crise política, acentuada pelas investigações que apuram as denúncias de tentativa de interferência na Polícia Federal feitas pelo ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.
Progressistas, Republicanos e PL já assumiram postos no governo federal. Segundo líderes do Centrão, mais nomeações são aguardadas para os próximos dias. Ao menos nove órgãos, departamentos e empresas públicas surgem nas conversas de integrantes do grupo, que também é formado por Solidariedade, PSD e PTB.
Na mira estão órgãos estratégicos, como o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit). O interesse do grupo nesses órgãos se dá pela importância que eles têm nos rincões do País, podendo escolher como será feita a alocação dos recursos e, consequentemente, dando visibilidade a aliados.
Líderes do Centrão foram envolvidos em diversas investigações de esquemas de corrupção, como o mensalão e a Operação Lava Jato. O chamado Centrão é um grande bloco informal formado principalmente por parlamentares e partidos que visam a garantir vantagens políticas. A aproximação do presidente Bolsonaro com o grupo poderia representar o apoio de cerca de 200 parlamentares.
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs)
O Progressistas do deputado Arthur Lira (AL) foi contemplado com uma nomeação para o comando Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), um dia após o Centrão ter apoiado o governo em votações importantes. O bloco ficou alinhado ao Palácio do Planalto durante a votação da proposta de socorro a Estados e municípios. Diferentemente de outras ocasiões, quando impuseram reveses a Bolsonaro, líderes do Centrão foram ao microfone para orientar votos conforme os interesses do Executivo.
Nomeado em 6 de maio, Fernando Marcondes de Araújo Leão comanda a autarquia com orçamento de R$ 1 bilhão neste ano. Lira repassou o apadrinhamento do cargo ao deputado Sebastião Oliveira (PL-PE), terceirizando a escolha como estratégia para construir sua base de apoio em uma eventual disputa pela presidência da Câmara em fevereiro de 2021. O presidente da Casa é o responsável pela abertura de um processo de impeachment. Lira espera ganhar o apoio do presidente Bolsonaro na disputa.
Secretaria Nacional de Mobilidade do Ministério do Desenvolvimento Regional
No dia 7 de maio, o advogado Tiago Pontes Queiroz foi nomeado secretário nacional de Mobilidade do Ministério do Desenvolvimento Regional. O Estadão apurou que Queiroz foi uma indicação do deputado Sílvio Costa Filho (Republicanos-PE), em uma negociação que envolveu o presidente da sigla, Marcos Pereira (Republicanos-SP).
O advogado já ocupou outros cargos na máquina pública. Em março, havia assumido a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) de Pernambuco, órgão que também é vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Regional.
O secretário também ocupou um cargo no Ministério da Saúde durante o governo de Michel Temer (MDB). No início de 2019, Queiroz foi denunciado pelo Ministério Público por irregularidades em contratos da pasta, no mesmo processo em que é alvo o ex-ministro Ricardo Barros (PP-PR).
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE)
Sigla do ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado no mensalão, o PL assumiu a Diretoria de Ações Educacionais do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). A nomeação de Garigham Amarante Pinto, assessor do partido na Câmara, foi publicada em 18 de maio no Diário Oficial da União.
Vinculado ao Ministério da Educação, o FNDE é um dos espaços mais cobiçados por políticos, com orçamento de R$ 29,4 bilhões neste ano. Foi por meio do órgão que a pasta contratou uma empresa para fornecer kits escolares a estudantes que, segundo o Ministério Público, está envolvida em um esquema, revelado em março pelo Estadão, que desviou R$ 134,2 milhões de dinheiro público da saúde e da educação na Paraíba.