Sob gritos de apoio e protesto, o presidente Jair Bolsonaro foi recebido nesta segunda-feira, 1º, em Anguillara Vêneta, comuna da província de Pádua, no interior da Itália, onde nasceram e viveram os antepassados do chefe do Executivo. Lá, recebe ainda hoje o título de cidadão honorário.
A prefeita da pequena cidade de 4 mil habitantes, Alessandra Buoso, é a idealizadora da homenagem ao presidente. Anguillara Vêneta é terra natal de um dos bisavôs de Bolsonaro. A outorga à honraria foi aprovada pelo poder legislativo local sob protestos da comunidade e de grupos ligados à causa ambiental. Na sexta-feira, militantes chegaram a pichar "Fora, Bolsonaro" nas paredes da prefeitura.
Em transmissão pelas redes sociais antes do evento, Bolsonaro disse estar sentindo uma "emoção muito grande" por "encontrar os parentes" e "rever as raízes". Essa é a primeira viagem do presidente à Itália.
Vídeos publicados nas redes sociais mostram que a chegada de Bolsonaro à Villa Arca del Santo, local onde o presidente receberá o título de cidadão honorário, foi tumultuada, com forte presença da imprensa, apoiadores aos gritos de "mito" e seguranças do presidente. Perto dali, numa praça da cidade, centenas de manifestantes contrários ao chefe do Executivo brasileiro usaram faixas de "Fora, Bolsonaro", cartazes e camisetas com mensagens contrárias ao político brasileiro e à concessão do título honorário.
A frase "Salvini cretino, Bolsonaro assassino" foi repetida pelos manifestantes, em referência ao senador italiano de ultradireita Matteo Salvini. Comentários em relação à postura negacionista de Bolsonaro durante a pandemia também foram feitos pelos manifestantes.
De acordo com a programação oficial divulgada pelo governo, após a cerimônia, que deve contar com a presença de parentes distantes do presidente, Bolsonaro será recebido em almoço organizado pela prefeita Alessandra Buoso, filiada ao partido de ultradireita Liga.
Nos atos convocados pelas redes sociais contra Bolsonaro, os manifestantes ligados a movimentos sociais dizem que "não é preciso muita análise" para dizer que a presença do chefe do Executivo brasileiro na cidade "é indesejável".
"Nos últimos anos, Bolsonaro se tornou um dos principais baluartes da negação - tanto pandêmica quanto climática - do racismo mais vulgar, colonialismo e sexismo. Por estes motivos não aceitaremos sua presença na cidade", diz o texto de convocação para o evento, que no Facebook tem quase mil presenças confirmadas.
A solenidade de entrega do título honorário não deverá ser transmitida ao vivo, esclarece a equipe de comunicação que acompanha o presidente na Itália. A passagem de Bolsonaro pela Itália se encerra nesta terça-feira, 2.
Depois de receber título honorário Bolsonaro deverá visitar hoje a Basílica de Pádua, segundo informa a agenda oficial do chefe do Executivo. O compromisso ocorre após a igreja local emitir nota, na semana passada, em tom crítico ao governo e com citação a "constrangimento" com a homenagem oferecida ao presidente.
Visita à Basília de Pádua
"Não é oculto que a concessão da cidadania honorária tem gerado muito constrangimento para nós", afirmou, por meio de nota oficial, a Basílica de Pádua na última quarta-feira. O texto lembra as mais de 600 mil mortes causadas pela covid-19 no Brasil e diz que a gestão da pandemia está "sob holofotes".
"A Igreja de Pádua, tornando-se porta-voz de um sentimento difundido e em virtude do vínculo que une o Brasil à nossa terra, aproveita a possível passagem para Anguillara Veneta do presidente Bolsonaro, para pedir-lhe de todo o coração que seja promotor de políticas que respeitem a justiça, a saúde, o meio ambiente, especialmente de apoio aos pobres", acrescenta a Basílica, na nota.
Representante brasileiro da COP-26
Bolsonaro optou por não participar da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP-26, em Glasgow, Escócia, onde estarão reunidos os principais líderes globais, para marcar presença na agenda pessoal na cidade de origem de sua família.
Para o evento da ONU, o governo decidiu enviar como chefe da delegação o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, como uma "estratégia", na explicação de Bolsonaro. O vice-presidente Hamilton Mourão, no entanto, disse que a ausência do chefe do Executivo seria para evitar pedradas, já que o Brasil é bastante criticado no exterior por sua política ambiental.
Violência em Roma
Jornalistas brasileiros que acompanhavam Bolsonaro em Roma, onde ele participou da Cúpula de Líderes do G-20 no fim de semana, relataram nesse domingo, 31, agressões por parte da equipe de segurança do presidente. As hostilidades aconteceram, conforme os relatos, antes e durante uma caminhada improvisada do chefe do Executivo com apoiadores que se reuniram frente à embaixada do Brasil.