Bolsonaro encerra entrevista e não fala sobre Celso de Mello

Ministro do STF criticou o presidente por divulgar vídeo com ataque ao Supremo

29 out 2019 - 08h28
(atualizado às 10h01)

O presidente Jair Bolsonaro deixou uma entrevista que concedia a jornalistas brasileiros na Árabia Saudita, nesta terça-feira (29), após ser perguntado sobre a resposta dada pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, a respeito de um vídeo publicado na conta oficial de Bolsonaro no Twitter que retrata o STF entre instituições que seriam ameaças a ele.

Bolsonaro respondeu sobre as expectativas para um encontro com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, e na sequência, ao ser perguntado sobre Celso de Mello, virou-se e encerrou a entrevista, mostrou um vídeo publicado na conta da BBC Brasil no Twitter.

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Presidente Jair Bolsonaro durante fórum de negócios nos Emirados Árabes Unidos, em Abu Dhabi, no dia 27 de outubro de 2019
Presidente Jair Bolsonaro durante fórum de negócios nos Emirados Árabes Unidos, em Abu Dhabi, no dia 27 de outubro de 2019
Foto: REUTERS/Satish Kumar

Na noite de segunda-feira, Celso de Mello afirmou que o vídeo publicado na conta oficial de Bolsonaro, que posteriormente foi apagado, demonstra que o atrevimento presidencial parece não encontrar limites.

"A ser verdadeira a postagem feita pelo senhor presidente da República em sua conta pessoal no 'Twitter', torna-se evidente que o atrevimento presidencial parece não encontrar limites na compostura que um chefe de Estado deve demonstrar no exercício de suas altas funções, pois o vídeo que equipara, ofensivamente, o Supremo Tribunal Federal a uma 'hiena' culmina, de modo absurdo e grosseiro, por falsamente identificar a Suprema Corte como um de seus opositores", disse o ministro em resposta enviada por sua assessoria, após questionamento feito pelo jornal Folha de S.Paulo sobre o vídeo.

No vídeo em questão, Bolsonaro é representado por um leão cercado por hienas identificadas com símbolos do STF, da ONU, da OAB, de órgãos de imprensa e até do partido do presidente, o PSL, entre outros.

Celso de Mello, o ministro decano do STF, disse que o comportamento revelado no vídeo representa a "expressão odiosa (e profundamente lamentável) de quem desconhece o dogma da separação de Poderes", e de quem teme um Judiciário independente, em que nenhuma autoridade está acima da Constituição e das leis.

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"É imperioso que o senhor presidente da República --que não é um 'monarca presidencial', como se o nosso país absurdamente fosse uma selva na qual o Leão imperasse com poderes absolutos e ilimitados-- saiba que, em uma sociedade civilizada e de perfil democrático, jamais haverá cidadãos livres sem um Poder Judiciário independente, como o é a Magistratura do Brasil", acrescentou.

Procurado por meio de sua assessoria, o presidente do STF, Dias Toffoli, não respondeu a um pedido de comentário sobre o vídeo.

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