O presidente Jair Bolsonaro deixou uma entrevista que concedia a jornalistas brasileiros na Árabia Saudita, nesta terça-feira (29), após ser perguntado sobre a resposta dada pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, a respeito de um vídeo publicado na conta oficial de Bolsonaro no Twitter que retrata o STF entre instituições que seriam ameaças a ele.
Bolsonaro respondeu sobre as expectativas para um encontro com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, e na sequência, ao ser perguntado sobre Celso de Mello, virou-se e encerrou a entrevista, mostrou um vídeo publicado na conta da BBC Brasil no Twitter.
Na noite de segunda-feira, Celso de Mello afirmou que o vídeo publicado na conta oficial de Bolsonaro, que posteriormente foi apagado, demonstra que o atrevimento presidencial parece não encontrar limites.
"A ser verdadeira a postagem feita pelo senhor presidente da República em sua conta pessoal no 'Twitter', torna-se evidente que o atrevimento presidencial parece não encontrar limites na compostura que um chefe de Estado deve demonstrar no exercício de suas altas funções, pois o vídeo que equipara, ofensivamente, o Supremo Tribunal Federal a uma 'hiena' culmina, de modo absurdo e grosseiro, por falsamente identificar a Suprema Corte como um de seus opositores", disse o ministro em resposta enviada por sua assessoria, após questionamento feito pelo jornal Folha de S.Paulo sobre o vídeo.
No vídeo em questão, Bolsonaro é representado por um leão cercado por hienas identificadas com símbolos do STF, da ONU, da OAB, de órgãos de imprensa e até do partido do presidente, o PSL, entre outros.
Celso de Mello, o ministro decano do STF, disse que o comportamento revelado no vídeo representa a "expressão odiosa (e profundamente lamentável) de quem desconhece o dogma da separação de Poderes", e de quem teme um Judiciário independente, em que nenhuma autoridade está acima da Constituição e das leis.
"É imperioso que o senhor presidente da República --que não é um 'monarca presidencial', como se o nosso país absurdamente fosse uma selva na qual o Leão imperasse com poderes absolutos e ilimitados-- saiba que, em uma sociedade civilizada e de perfil democrático, jamais haverá cidadãos livres sem um Poder Judiciário independente, como o é a Magistratura do Brasil", acrescentou.
Procurado por meio de sua assessoria, o presidente do STF, Dias Toffoli, não respondeu a um pedido de comentário sobre o vídeo.