Nas primeiras horas em solo brasileiro, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teve que dar seguidas explicações sobre seu envolvimento na tentativa de liberar joias, avaliadas em R$ 16,5 milhões, apreendidas pela Receita Federal sem pagar imposto.
Em conversas na sede do PL e em entrevistas, Bolsonaro tentou minimizar o caso, alegando que todos os presentes que recebeu foram registrados. Mas evitou falar sobre as ações de ministérios ainda na sua gestão para retirar do cofre da Receita no aeroporto de Guarulhos uma caixa avaliada em R$ 16,5 milhões com joias presenteadas pelo regime da Arábia Saudita.
Como revelou o Estadão, o colar de diamantes fora apreendido por auditores do fisco em outubro de 2021 porque não tinha sido declarado na entrada no País, quando o então ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque retornou de viagem ao Oriente Médio. O ex-presidente ficou com outros dois conjuntos de joias, como mostrou o jornal. Parte foi devolvida, no entanto, após decisão do Tribunal de Contas da União (TCU).
Nesta quinta-feira, 30, Bolsonaro disse que recebeu joias da Arábia Saudita "porque eles são riquíssimos". "A rainha da Inglaterra ganhou R$ 50 milhões. Eles [reino da Arábia Saudita] têm dinheiro, pô. É o prazer deles dar o presente. Esse sheik me convidou, eu fui na casa dele, fiquei na casa dele. Ele tem coisas que nós não temos: três esposas, por exemplo. Eles são muito bem sucedidos. São riquíssimos, e eles procuram agradar as pessoas. Mas sou um cara que continuo com o meu reloginho aqui, graças a Deus", afirmou Bolsonaro, em entrevista ao programa Morning Show, da Jovem Pan, nesta manhã.
Bolsonaro chegou na manhã de hoje em Brasília, após três meses no Estados Unidos. O ex-presidente viajou ao País norte-americano no fim de seu mandato, depois de perder as eleições para Luiz Inácio Lula da Silva. Bolsonaro saiu do aeroporto sem ser visto por apoiadores e seguiu para o escritório do PL, seu partido, onde se reuniu com deputados, senadores e lideranças.
Durante a entrevista, Bolsonaro minimizou, ainda, o fato de ter ficado com as joias, bem como de ter usado a máquina pública para tentar recuperar os diamantes. "Entregamos ali o primeiro conjunto, que chegou na presidência. E toda vez que tentamos recuperar o outro conjunto, foi via ofício. Não sei porque essa onda toda. Se estão achando isso como algo que fiz de errado, fico até feliz. Não tem porque me acusar. O segundo conjunto já está pronto para ser entregue, sem problema nenhum. Confesso, fiquei chateado de entregar o HK. Sou apaixonado por armas", afirmou o ex-presidente.
Bolsonaro também disse que cogitou leiloar as joias. "Eu não quero ter uma joia em casa. Nunca, jamais, vou ter uma joia do preço que está aí. Até conversei com a minha esposa, se fosse nossa, o que ia fazer com isso daí. Leiloar, instituição de caridade, fazer bom uso dela? Quem vai poder usar uma joia daquela e sair pela rua Brasil à fora".
8 de janeiro
O ex-presidente também teve que se explicar sobre a participação de bolsonaristas nos atos golpistas de 8 de janeiro, em Brasília. Uma massa de apoiadores de Bolsonaro invadiu e depredou os prédios públicos da Praça dos Três Poderes, em protesto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e em favor de uma intervenção militar.
"Foi um movimento espontâneo por parte da população, que resolveu ir para as portas dos quartéis por questões de segurança", contemporizou o ex-presidente. Bolsonaro também reforçou a importância da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro e rebate comparações da invasão feita por seus apoiadores com as do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). "Primeiro que eu não mando em ninguém", disse, ao se afastar de responsabilidades. "A CPMI vai realmente trazer a verdade e mostrar o que aconteceu."