A escolha da quarta-feira (2) e da faixa das 20h30 para o 14º pronunciamento em cadeia de rádio e TV de Jair Bolsonaro não foi ao acaso.
É o dia da semana em que o ‘Jornal Nacional’ começa mais cedo (às 20h) e termina antes do habitual (justamente às 20h30) por conta da transmissão do futebol.
Com isso, o principal telejornal da Globo — visto por cerca de 50 milhões de brasileiros nos quatro cantos do País — ficou impedido de repercutir o inevitável panelaço contra o presidente.
Dito e feito. Bolsonaro falou por 5 minutos e os protestos fizeram muito barulho, como nas aparições anteriores do chefe do Executivo em transmissões obrigatórias na TV.
Nessas ocasiões, o ‘JN’ sempre exibiu imagens das manifestações com panelas em várias cidades, a partir de vídeos postados em redes sociais.
Desta vez, a estratégia de impedir a repercussão deu certo. Ou quase. Às 20h59, 24 minutos após o presidente sair do ar, a emissora fez uma chamada inusual do ‘Jornal da Globo’.
A âncora Renata Lo Prete informou a respeito dos panelaços. Imagens foram geradas. Ela anunciou a cobertura completa dos protestos na edição que começaria depois da faixa esportiva.
De acordo com dados prévios, o pronunciamento de Bolsonaro marcou 21 pontos de média na Globo. Este índice representa 4,3 milhões de telespectadores somente na região metropolitana de São Paulo.
Quando Renata Lo Prete destacou o panelaço ao surgir no intervalo do capítulo da novela ‘Império’, o canal chamado de “inimigo” pelo presidente havia conquistado mais 2 pontos no ranking da Kantar Ibope.
Curiosidade: na estatal TV Brasil, que chegou a ser ameaçada de extinção por Bolsonaro em razão de ser vista como “a TV do Lula”, o pronunciamento presidencial ficou com 0.3 ponto de audiência, ou seja, 60 mil pessoas sintonizadas na Grande SP. A Globo teve 71 vezes mais público.