Bolsonaro nomeia ministro e assessor pessoal para Comissão de Ética durante governo Lula

Cada um deles terá mandato de três anos; mudanças na composição do colegiados só podem ocorrer por renúncia

21 nov 2022 - 19h11
(atualizado às 21h34)
Célio Faria Júnior atuou como assessor do "gabinete do ódio", no Palácio do Planalto
Célio Faria Júnior atuou como assessor do "gabinete do ódio", no Palácio do Planalto
Foto: Dida Sampaio/Estadão / Estadão

A 44 dias de deixar o cargo, o presidente Jair Bolsonaro nomeou dois auxiliares de sua estreita confiança para integrar a Comissão de Ética Pública da Presidência da República. O ministro da Secretaria de Governo, Célio Faria Junior, e o assessor especial da Presidência João Henrique Nascimento de Freitas terão mandato de três anos e vão atuar durante o governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.

Bolsonaro assinou os decretos no último dia 18, sexta-feira. As nomeações foram publicadas em edição extra no Diário Oficial da União. Servidor federal com passagens pela Marinha, o ministro Célio Faria é um dos mais próximos colaboradores de Bolsonaro e controlava parte de sua agenda. É tido como um dos mais radicais do conservadorismo e chegou a ser apontado como integrante do "gabinete do ódio" do Palácio do Planalto. O advogado João Henrique, por sua vez, é assessor-chefe da Assessoria Especial de Bolsonaro e é ligado ao senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ. Foi presidente da Comissão de Anistia e também colaborou na campanha. O presidente registrou, ainda, a renúncia de Roberta Muniz Codignoto, ocorrida em 6 de setembro.

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A lei determina que a comissão seja integrada por "brasileiros que preencham os requisitos de idoneidade moral, reputação ilibada e notória experiência em administração pública". Eles não recebem remuneração, uma vez que o trabalho é considerado como "prestação de relevante serviço público". As mudanças de composição só ocorrem ao longo do mandato por renúncia de um de seus sete integrantes.

A Comissão de Ética Pública funciona vinculada administrativamente à Secretaria-Geral da Presidência. Antes, era ligada à Casa Civil. Integram o grupo os conselheiros Antonio Carlos Vasconcellos Nóbrega, Francisco Bruno Neto, Fábio Prieto de Souza e Edvaldo Nilo de Almeida. O presidente é o conselheiro Edson Leonardo Dalescio Sá Telles. Todos foram designados por Bolsonaro.

Criada durante o governo Fernando Henrique Cardoso, em 1999, a comissão é um órgão consultivo do presidente da República. Compete ao colegiado zelar pela aplicação do Código de Conduta da Alta Administração Federal, analisar casos de potencial conflito de interesses e desvios de ocupantes de cargos de confiança, inclusive durante as eleições. O grupo tem acesso a dados sigilosos de patrimônio dos integrantes do primeiro escalão do governo.

Cabe à comissão, quando provocada a partir de denúncias ou de ofício, sugerir punições ou recomendar medidas administrativas. As penas vão de advertência e censura à indicação de demissão ou de investigação de transgressão disciplinar pela Controladoria-Geral da União. O colegiado também decidirá se os ministros de Bolsonaro deverão cumprir quarentena por até seis meses antes de exercerem outras atividades profissionais, período durante o qual continuam a ser remunerados com salário integral.

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Nesta segunda-feira, 21, a comissão já indicou haver conflito em consultas de ministros como Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral da Presidência) e Daniel Duarte Ferreira (Desenvolvimento Regional), além do secretário do Tesouro, Esteves Colnago, do secretário Nacional de Portos e Transportes Aquaviários, Diogo Piloni e Silva, do diretor-presidente da Valec, André Kuhn, e da secretária de Articulação e Promoção da Ciência, Christiane Corrêa, braço-direito do ex-ministro e senador eleito por São Paulo Marcos Pontes (Ciência, Tecnologia e Inovações).

Além disso, a comissão optou por instauração de procedimento de apuração ética contra o ex-presidente da Caixa Pedro Guimarães, por denúncias de assédio sexual, e o assessor internacional da Presidência Filipe Martins, por suposto gesto racista. O ex-presidente da Fundação Cultural Palmares Sérgio Camargo, acusado de assédio moral e discriminação a religiões, recebeu censura ética.

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