Bolsonaro pediu para Receita devolver joias dois dias antes de ir para os EUA, diz jornal

Estadão teve acesso ao documento enviado por ordem do gabinete do então presidente para a retirada dos diamantes avaliados em R$ 16,5 mi

6 mar 2023 - 19h17
(atualizado às 19h21)
Foto: Poder360

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) encaminhou um ofício para Receita Federal dois dias antes de embarcar para os Estados Unidos na tentativa de resgatar as joias com diamantes avaliadas em R$ 16,5 milhões apreendidas pelo órgão no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo.

Segundo o Estadão, que teve acesso ao documento, o ofício dizia que "os bens foram ofertados ao presidente da República pelo reino da Arábia Saudita" e determinava que os itens valiosos fossem retirados pelo primeiro-sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva "por ordem do gabinete de Bolsonaro".

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Enviado no fim do dia 28 de dezembro de 2022, o documento assinado pelo tenente-coronel do Exército Mauro Cid foi dirigido ao ex-secretário da Receita Federal Julio Cesar Vieria Gomes, que, no mesmo dia, determinou à Superintendência da Receita em São Paulo a devolução das joias.

No dia seguinte, um jatinho da Força Aérea Brasileira (FAB) levou à Base Aérea de Guarulhos, em São Paulo, o primeiro-sargento Jairo Moreira da Silva, com a missão de resgatar as joias. 

Como revelou o Estadão, o presente dado pelo regime saudita --um colar, um par de brincos, um relógio e um anel--  foi apreendido pelo Fisco em outubro de 2021, na mochila do assessor do ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque, que tentou entrar com as joias no Brasil ilegalmente.

Tentativa de resgate fracassou 

No Aeroporto de Guarulhos, segundo o Estadão, o primeiro-sargento Jairo Moreira da Silva encontrou o servidor da Receita Marco Antônio Lopes Santanna, apresentando uma cópia do documento direcionado "ao Sr. Julio Cesar" para a retirada do material retido na alfândega.

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Santanna esclareceu que não tinha nenhuma informação sobre o assunto e disse a Jairo que não iria entregar nada. O primeiro-sargento insistiu, disse que cumpria uma missão "em caráter de urgência" e até tentou envolver por telefone um "coronel" na negociação. O servidor, no entanto, se negou a conversar com o "coronel", assim como se negou a atender Julio Cesar Vieira, o então chefe da Receita, que tentou interceder na liberação.   

Jairo também tentou usar a troca de comando na Presidência da República, o que viria a ocorrer com a posse de Lula no dia 1º de janeiro de 2023, para justificar o caráter de urgência da medida: "não pode ter nada do antigo pro próximo, tem que tirar tudo e levar."

Enfático, Santanna pediu que o militar aguardasse uma resposta do delegado da alfândega de Guarulhos, com o Ato de Destinação de Mercadoria, mas voltou a frisar que, mesmo com a apresentação do documento, naquela circunstância, haveria muita dificuldade em acessar as joias. Jairo aguardou por algum momento, conforme foi orientado pelo servidor, mas logo depois desistiu e deixou o aeroporto, sem retornar ou contatar o auditor-fiscal.

Dos Estados Unidos, onde está desde 30 de dezembro, o ex-presidente Bolsonaro negou que tenha havido irregularidades na tentativa de trazer joias de valor milionário da Arábia Saudita. Ele se defendeu do caso, revelado pelo Estadão, afirmando que não pediu, nem recebeu o presente. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, a quem o item mais valioso do presente seria endereçado, também negou ter conhecimento das joias e ironizou o ocorrido.

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As joias seguem apreendidas até hoje no cofre da Receita, em Guarulhos.

Fonte: Redação Terra
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