O presidente Jair Bolsonaro recebeu nesta terça-feira (01), o presidente do Patriota, Adilson Barroso, no Palácio do Planalto, que disse esperar "com muita honra" a filiação dele ao partido. A conversa ocorreu um dia após o senador Flávio Bolsonaro (RJ) assinar a ficha no Patriota.
Embora nos bastidores do Congresso a ida de Bolsonaro para o Patriota seja dada como praticamente certa, Barroso disse ao Estadão que as negociações ainda não terminaram. De acordo com ele, o presidente ainda vai consultar aliados e se comprometeu a dar uma resposta em 15 dias.
A conversa no Planalto durou cerca de 20 minutos. Ao Estadão, Barroso afirmou que não entregará o comando da legenda para Bolsonaro, a quem definiu como "parceiro".
"Eu tenho certeza de que o presidente vai falar: 'Quero o Adilson. Ele sabe pilotar esse avião, que é o Patriota'", disse o presidente do partido. "Se ele pedir a presidência nacional do partido, vai por quem? Ele não vai querer ser. Além de tudo, ele é fiel, parceiro, não precisa tomar o partido, não. O partido é de nós todos."
Apesar das declarações de Barroso, Bolsonaro já tentou ter o controle da direção nacional do Patriota, em 2017. À época isso foi justamente o motivo que emperrou a sua filiação e o fez migrar para o PSL, sigla pela qual se elegeu presidente, em 2018.
Barroso negou, porém, que a articulação tenha sido feita por Bolsonaro e culpou o ex-ministro Gustavo Bebianno, morto em março de 2020. Bebianno era aliado de Bolsonaro e depois se transformou em adversário.
"Nunca foi ele (Bolsonaro) que quis me tirar da presidência nacional do partido, pois sempre confiou em mim. Muito pelo contrário, foi o Bebianno que partiu para cima de tudo que é jeito porque ele queria ser presidente do partido, tanto que ele foi presidente do PSL", afirmou Barroso.
Flávio se filiou nesta segunda-feira, 31, ao Patriota e indicou que seu pai, em campanha pela reeleição, seguirá o mesmo caminho. Essa possibilidade já provocou racha interno. Integrantes do Patriota entraram com ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) alegando que mudanças promovidas às pressas no estatuto da legenda tiveram como único objetivo beneficiar a família Bolsonaro.
O senador participou da convenção nacional do Patriota, nesta segunda-feira, por videoconferência. Na semana passada, ele deixou o Republicanos, partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, dizendo que se filiaria ao mesmo partido a ser escolhido pelo pai. Em seu discurso, Flávio elogiou o Patriota e disse ter certeza de que todos vão "caminhar juntos" para a campanha de 2022, construindo "o maior partido do Brasil".
Mesmo assegurando que Bolsonaro não fez exigências, Barroso pretende fazer uma espécie de intervenção para mudar o comando de diretórios estaduais, com o objetivo de abrigar o grupo político do presidente. A ação conta com forte resistência do deputado federal Fred Costa (Patriota-MG) e do vice-presidente do partido, Ovasco Costa. "Sou contra o golpe rasgando o regimento", disse Fred ao Estadão.
Em uma reunião rápida e desorganizada, Barroso pôs em votação a possibilidade de filiação de Bolsonaro. "Alguém aqui tem alguma coisa contra ou todos são a favor?", perguntou ele para a cúpula do partido. Uma parte dos dirigentes do Patriota estava de pé e outra, sentada. Não houve discussão. "Isso não é forma de votação, Adilson", disse um dos dirigentes. "É golpe".
Desde que saiu do PSL, em novembro de 2019, Bolsonaro sofreu vários reveses. Após ter anunciado a criação de um novo partido, o Aliança pelo Brasil, o presidente não conseguiu as 491.967 assinaturas necessárias para tirar a legenda do papel. Após uma ruidosa briga com o PSL, ele negociou a entrada em nove partidos - entre os quais o PTB, PRTB, Republicanos e Progressistas -, mas até agora nenhum havia aceitado lhe dar carta branca.
Para se filiar, Bolsonaro exige ter influência sobre a Executiva Nacional, o controle dos diretórios e do caixa do partido. Foi por isso que rompeu com o PSL e depois não conseguiu voltar para a sigla.
O Patriota ficou em 22º lugar no ranking das siglas que receberam fundo eleitoral nas disputas municipais de 2020, com R$ 24,5 milhões. Segundo o orçamento de 2021, aprovado pelo Congresso e sancionado pelo presidente, o Patriota terá R$ 22,4 milhões de fundo partidário para usar neste ano, valor que o coloca em 19º na lista de 22 siglas com direito à verba. No Congresso, o Patriota conta apenas seis deputados federais e, com a ida de Flávio, agora terá um senador.