Após uma série de derrotas nas eleições municipais e um questionamento inédito à sua influência no campo conservador, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reforçou nesta terça-feira, 29, em declaração no Senado, que não vê a direita política no Brasil se sustentando sem ele. Ao ser questionado sobre a crescente diversidade de lideranças conservadoras que emergem no País, Bolsonaro foi direto: "Já tentaram várias vezes, não conseguiram."
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Bolsonaro se encontrou com a bancada do PL no Senado para discutir possíveis anistias, tanto para si, por estar inelegível, quanto para os envolvidos nos atos de vandalismo contra as sedes dos Três Poderes em janeiro de 2023. Durante o encontro, ele destacou que lideranças que buscam apoio popular sem compreender “a linguagem do povo” falham em consolidar influência.
“Esses caras juntam quantas pessoas no aeroporto, em um bate-papo em qualquer lugar do Brasil? Não sabem a linguagem do povo”, afirmou. Ele criticou aqueles que tentam estabelecer liderança por meio de redes sociais, chamando-os de “estrategistas intergalácticos”.
Os recentes embates eleitorais revelaram uma divisão crescente no eleitorado conservador. Um exemplo relevante foi a candidatura de Pablo Marçal (PRTB) à Prefeitura de São Paulo. Mesmo com Bolsonaro apoiando Ricardo Nunes (MDB), parte significativa de seu eleitorado escolheu Marçal, ignorando as críticas de Bolsonaro ao candidato.
No segundo turno, Bolsonaro acumulou derrotas em várias cidades, mesmo onde se envolveu diretamente, como em Goiânia (GO). Lá, o candidato apoiado por Ronaldo Caiado (União Brasil), desafeto político do ex-presidente, saiu vitorioso, apesar dos esforços de Bolsonaro.
Bolsonaro chegou a permanecer em Goiânia durante todo o dia da votação no segundo turno, mas, após a derrota de seu candidato, deixou a cidade sem se pronunciar. O governador Ronaldo Caiado interpretou o resultado como um recado do eleitorado. Em entrevista à Folha de S.Paulo, Caiado comentou que o desgaste no estilo de Bolsonaro pode ter custado sua influência nas eleições.
Bolsonaro, por outro lado, argumentou que enfrentou uma disputa desigual, mencionando “máquinas” do governo estadual e da prefeitura, além de uma operação de busca contra o deputado Gustavo Gayer (PL-GO), próximo de Bolsonaro, às vésperas da votação.
Outro aliado que recentemente expôs divergências com o ex-presidente foi o pastor Silas Malafaia. Durante a campanha em São Paulo, Malafaia criticou publicamente a hesitação de Bolsonaro entre os nomes de Marçal e Nunes, questionando sua liderança. Bolsonaro, porém, minimizou o atrito, afirmando que respondeu o pastor “com um coraçãozinho” e que não guarda ressentimentos.
Em balanço sobre o desempenho do PL nas eleições, Bolsonaro destacou o crescimento do partido, mas lamentou a derrota em Fortaleza, onde o petista Elmano de Freitas venceu o candidato André Fernandes (PL) por uma margem estreita. “Faltou um tiquinho”, avaliou.
Com foco no futuro, Bolsonaro mencionou o plano de lançar Michelle Bolsonaro como candidata ao Senado pelo Distrito Federal em 2026.