Bolsonaro utiliza ações militares para reforçar ato eleitoral no 7 de Setembro

4 set 2022 - 10h58
(atualizado às 11h27)
Bolsonaro em campanha pela reeleição
Bolsonaro em campanha pela reeleição
Foto: REUTERS/Ricardo Moraes

O presidente Jair Bolsonaro (PL) vai usar ações militares para engrossar um ato eleitoral no 7 de Setembro, no Rio. O esperado comício do presidente - candidato à reeleição pelo PL - na orla carioca vai ocorrer ao mesmo tempo em que a Marinha faz sua parada naval, a Força Aérea exibe a esquadrilha da fumaça e os canhões do Forte de Copacabana vão saudar o bicentenário da Independência. Os bolsonaristas se misturarão a bandas militares e a uma exibição de paraquedistas do Exército e da Aeronáutica.

Bolsonaro pretendia transferir o desfile cívico-militar do dia 7 da Avenida Presidente Vargas, no centro - onde sempre ocorreu - para Copacabana, onde haverá seu evento de campanha. Historicamente, os presidentes, desde a redemocratização, participam das comemorações do Dia da Independência apenas na parada militar, em Brasília. Foi assim com José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer. Bolsonaro será o primeiro a ir a um segundo ato, no Rio - junto com uma manifestação eleitoral.

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Na sexta-feira, o Ministério Público Federal enviou pedidos ao Comando Militar do Leste (CML), ao 1.º Distrito Naval e ao 3.º Comando Aéreo Regional para que informem quais providências tomaram para impedir que a celebração da Independência se confunda com ato político-partidário. Também perguntou o que fizeram para impedir que os subordinados participem de celebrações políticas.

Para analistas, Bolsonaro pretende, com o ato, unir os militares aos seus apoiadores. "O que seria uma festa cívica que marca um bem comum para todos os brasileiros, os 200 anos de Independência do País, acaba sendo um caro evento de campanha", disse Eduardo Heleno de Jesus Santos, do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense.

O professor de Ciência Política da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Christian Lynch, concorda. Segundo ele, o presidente vai usar os atos oficiais para exibir apoio de militares e de eleitores. O cenário - prevê - será utilizado em peças de propaganda eleitoral. "Bolsonaro vende a imagem de que tem o apoio irrestrito do povo e das Forças Armadas e está sempre parasitando eventos com a presença das Forças Armadas, de evangélicos, numa tentativa de tomar para si os atos."

Resistências

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Desta vez, o presidente enfrentou resistências no Exército e na Prefeitura do Rio, que informou não ser possível mudar o evento de lugar. O resultado foi que, após dois anos de pandemia sem festas pelo País, o bicentenário da Independência será comemorado sem desfile no Rio. A parada na Avenida Presidente Vargas foi cancelada a fim de não contrariar Bolsonaro. Se ela não podia ser em Copacabana, também não seria em outro lugar.

As tropas do CML vão desfilar em Belo Horizonte, em Vitória e até em São Paulo, para onde as Brigadas Paraquedista e de Montanha enviaram contingentes. Na capital paulista, o Comando Militar do Sudeste prepara uma festa com 6.266 militares das três Forças - incluindo cadetes equatorianos -, 1.015 policiais e 3 mil civis, na Avenida d. Pedro 1.º , ao lado do Museu Paulista, no Ipiranga. Desfiles vão ocorrer em todas as capitais. Salvador terá 6,4 mil civis e militares e no Recife serão 2,5 mil militares.

Políticos bolsonaristas, ouvidos sob condição de anonimato, avaliam que a celebração no Rio servirá para que o mandatário continue a contestar as pesquisas eleitorais. Eles preparam uma grande panfletagem na orla. No Estado, Lula marcou 42% ante 36% do presidente, na mais recente pesquisa Datafolha. Em 2018, Bolsonaro venceu o segundo turno com o dobro de votos de Fernando Haddad (PT).

Para Eduardo Heleno, há outras razões para a escolha do Rio. Berço político do presidente, o Estado concentra uma grande guarnição militar, que sempre serviu de base eleitoral a Bolsonaro. "Não há como deixar de levar em conta, além do público militar, a aproximação com neoconservadores cristãos."

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Ele cita o fato de o presidente ter crescido a partir desse eleitorado, o que inclui ainda defensores da monarquia. O Estado é também chave para a pretensão de se formar bancadas estadual e federal fortes e para questões legais, pois ali estão as principais investigações que envolvem Flávio e Carlos Bolsonaro.

A mudança para o Rio, por fim, estaria condicionada ao fato de o presidente não contar com o apoio do governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB). Em 2021, Bolsonaro escolheu a Avenida Paulista para o ato do dia 7. Para a antropóloga Isabela Kalil, da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, há um cálculo político na mudança. Ela lembra que, em 1972, foi em São Paulo que a ditadura fez o principal ato da comemoração dos 150 anos da Independência, com a chegada dos restos mortais de d. Pedro 1.º ao Museu Paulista. Desta vez, o governo conseguiu que o coração do imperador viesse de Portugal para o Brasil, mas sem despertar a mesma comoção. "Dependendo de como for o 7 de Setembro, vamos saber como será a eleição."

Interesses

Sem o desfile no centro, as Forças Armadas prepararam oito horas de apresentações. A primeira das salvas de canhão será às 8 horas. Elas se repetirão de hora em hora. Pela manhã, bandas do Exército se exibirão em bairros do Rio. A parada naval, com navios da Marinha do Brasil e de países amigos, partirá do Recreio dos Bandeirantes, às 9 horas, em direção à Baía de Guanabara.

Às 13 horas, haverá a cerimônia comemorativa na Avenida Atlântica, em Copacabana, com show aéreo e apresentação de bandas militares. Às 16 horas, a Marinha e a artilharia no Forte executarão salvas de 21 tiros em homenagem ao Bicentenário. Já Bolsonaro vai participar da parada do dia 7, de manhã, em Brasília. Depois, chegará a Copacabana em uma motociata, que sairá do Aterro do Flamengo até um palco montado perto do Forte, mas distante do núcleo das comemorações oficiais.

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As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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