Cerco se fecha para aliados de Jair Bolsonaro e já são oito no centro das investigações

Carla Zambelli, Mauro Cid, Anderson Torres, Frederick Wassef e Silvinei Vasques são alguns dos aliados de primeira hora do ex-presidente que hoje estão na mira da Justiça e da Polícia Federal

11 ago 2023 - 17h24
(atualizado às 18h19)
O tenente coronel do Exercito, Mauro Cesar Barbosa Cid, que foi ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O tenente coronel do Exercito, Mauro Cesar Barbosa Cid, que foi ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADAO / Estadão

Oito aliados de primeira hora de Jair Bolsonaro (PL) estão hoje na mira da Justiça e da Polícia Federal (PF), suspeitos de terem praticados crimes que têm o ex-presidente como pano de fundo. A operação desta sexta-feira, 11, batizada de Lucas 12:2, vasculhou endereços em Brasília, São Paulo e Niterói em busca de provas da venda de joias e bens de alto valor que Bolsonaro ganhou em agendas oficiais.

O nome dado à operação é uma referência a um versículo bíblico, que diz "nada há encoberto que não haja de ser descoberto, nem oculto que não haja de ser sabido". Para a Polícia Federal, Bolsonaro interferiu diretamente nas negociações, com recebimento dinheiro em espécie pelos artefatos que foram efetivamente vendidos.

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Frederick Wassef, Mauro Cesar Lourena Cid e Osmar Crivelatti são alvos da operação desta sexta. Carla Zambelli, Anderson Torres, Mauro Cesar Barbosa Cid, Silvinei Vasques e Ailton Gonçalves Barros são outros aliados do ex-presidente que estão na mira da Justiça. Desses oito, três estão presos - Barros, Vasques e Mauro Cid (filho).

Além deles, Fábio Wajngarten, ex-ministro e hoje assessor pessoal de Bolsonaro também apareceu nos documentos da Operação Lucas 12:2. O advogado não é investigado no caso, mas aparece em uma troca de mensagens com Mauro Cid, na qual os dois conversam sobre a determinação do Tribunal de Contas da União (TCU) para que o relógio da marca Rolex que Bolsonaro ganhou de presente fosse devolvido. O objeto foi recomprado por Wassef e entregue ao tribunal.

Veja a seguir pelo que cada um dos aliados do ex-presidente é investigado.

Frederick Wassef

O advogado criminalista Frederick Wassef é um dos alvos da operação que a Polícia Federal fez nesta sexta-feira, em endereços de Brasília, São Paulo e Niterói. Ele é suspeito de estar envolvido com a recuperação de joias recebidas em agendas oficiais por Bolsonaro e vendidas por assessores do ex-presidente.

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Wassef é amigo pessoal da família do ex-presidente. Quando Flávio Bolsonaro (PL-RJ) se tornou suspeito de ter dentro de seu gabinete um esquema de "rachadinhas", na época em que era deputado estadual pelo Rio, o advogado escondeu o ex-assessor Fabrício Queiroz, um dos supostos envolvidos no esquema, dentro de uma casa de sua propriedade em Atibaia, interior de São Paulo.

Silvinei Vasques

O ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, foi preso nesta quarta-feira, 9, em outra operação da Polícia Federal. Ele é suspeito de ter intervindo nos bloqueios que a corporação fez no dia do segundo turno das eleições de 2022, sobretudo nos Estados da região Nordeste.

Vasques participou de uma reunião dias antes do segundo turno com a coordenação de campanha do ex-presidente, quando teria ajustado as blitze, sob o pretexto de fiscalizar o transporte irregular de eleitores. O Nordeste é uma região em que predomina o eleitorado petista. Entre os dias 28 e 30 de outubro de 2022, 2.185 dos 4.591 ônibus abordados pela PRF trafegavam por Estados nordestinos.

Paralelo a isso, o ex-diretor pediu votos para Bolsonaro nas redes sociais. Ele publicou, no dia da votação, um story com os dizeres "vote 22, Bolsonaro presidente", mas apagou horas mais tarde.

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Anderson Torres

O ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, Anderson Torres, ficou 117 dias preso neste ano. Com a derrota do ex-presidente nas urnas, ele assumiu o cargo de secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, cadeira que ocupava na data dos ataques às sedes dos Três Poderes no 8 de janeiro.

Dias depois do episódio, a Polícia Federal encontrou na residência de Torres uma "minuta do golpe" - documento que, assinado por Bolsonaro, instalaria um estado de sítio no País. O ex-ministro estava nos Estado Unidos na ocasião, quando o Supremo determinou que ele fosse preso.

Nesta semana, Torres prestou depoimento à CPMI do 8 de Janeiro e à CPI da Câmara Distrital do DF, que também investiga desdobramentos dessa ocasião. Ele chamou a minuta do golpe de "aberração jurídica" e negou a interferência na PRF.

"Gostaria de esclarecer que nunca determinei, ou sugeri, ao diretor-geral da PRF, ou ainda a qualquer pessoa, que interferisse no processo eleitoral de modo a beneficiar qualquer um dos candidatos", disse o ex-ministro. "Nossa determinação em relação à eleição sempre foi a de reprimir a compra de votos e os demais crimes eleitorais."

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Torres é delegado da Polícia Federal. Para responder às investigações em liberdade, Alexandre de Moraes determinou que ele cumprisse algumas medidas restritivas, como não poder ter redes sociais e usar tornozeleira eletrônica.

Mauro Cid e Mauro Cesar Lourena Cid

O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cesar Barbosa Cid, está envolvido em duas investigações que rondam o ex-presidente: o caso dos cartões de vacinação, que o levou para atrás das grades, e a suposta venda de joias e presentes de alto valor que Bolsonaro ganhou em agendas oficiais.

Osmar Crivelatti

Outro alvo da PF na operação desta sexta é o segundo-tenente Osmar Crivelatti, que também trabalhou na Ajudância de Ordens de Bolsonaro, ao lado de Mauro Cid. Ele é suspeito de estar envolvido com as negociações de joias, esculturas e bens de alto valor que foram recebidos como presentes em viagens oficiais.

Crivelatti também entrou na mira da CPMI do 8 de Janeiro. A base governista que integra o colegiado se articula para pedir que o segundo-tenente seja convocado a depor, depois de Mauro Cid ter ficado em silêncio quando foi interrogado.

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Carla Zambelli

Uma das aliadas de primeira hora do ex-presidente, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), hoje corre o risco de perder a cadeira na Câmara. Nesta sexta-feira, o ministro do Supremo Gilmar Mendes deu o terceiro voto a favor de colocá-la no banco dos réus por ter perseguido o jornalista Luan Araújo, empunhando uma arma de fogo, na véspera do segundo turno das eleições de 2022, pelas ruas do bairro dos Jardins, em São Paulo.

Bolsonaro atribui a sua derrota nas urnas a esse episódio, motivo pelo qual se afastou de Zambelli. A deputada também é suspeita de ter financiado e encomendado ao hacker Walter Delgatti Neto uma invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O objetivo seria questionar a confiabilidade do processo eleitoral. Delgatti foi preso no dia 2 de agosto e Zambelli teve gabinete e endereços vasculhados pela Polícia Federal.

Ailton Gonçalves Barros

A mesma operação da Polícia Federal que prendeu Mauro Cid também levou para atrás das grades Ailton Gonçalves Barros, um major expulso do Exército em 2006 por abuso e desacato. Nas eleições passadas, se apresentava como "01 de Bolsonaro". As autoridades suspeitam que ele teria atuado na parte operacional do Rio de Janeiro do processo de falsificação dos cartões de vacinação do ex-presidente e filha dele.

Também há uma troca de mensagens entre Barros e Mauro Cid na qual o major afirma saber quem é o mandante do assassinado da vereadora Marielle Franco. A polícia já desvendou a mecânica do dia do crime, mas ainda não identificou o seu mentor.

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