O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu R$ 17,1 milhões por transferências bancárias realizadas via Pix entre 1º de janeiro e 4 de julho deste ano, de acordo com relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). O documento foi enviado à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro.
O colegiado investiga os ataques orquestrados contra prédios dos Três Poderes em Brasília, no 8 de janeiro. Na ocasião, apoiadores de Bolsonaro depredaram instalações do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF).
Confira o que o Estadão já mostrou sobre o caso.
Quantidade de transações via Pix
O valor foi movimentado por 769 mil transações feitas para a conta do ex-presidente em seis meses. O relatório mostrou que 18 pessoas - advogados, empresários, militares, agricultores, pecuaristas e estudantes - pagaram entre R$ 5 mil e R$ 20 mil ao ex-presidente. Há também transferências de três empresas. Uma delas fez 62, que totalizam R$ 9,6 mil.
Dinheiro nas contas de Bolsonaro em 2023
O montante recebido via Pix corresponde quase à totalidade do dinheiro que circulou nas contas de Bolsonaro em 2023: R$ 18.498.532. Depois que deixou a Presidência, Bolsonaro assumiu o cargo de presidente de honra do PL, pelo qual recebe um salário de R$ 39 mil. Ele também recebe uma aposentadoria do Exército e outra da Câmara dos Deputados. Assim, entre aposentadorias e salários, Bolsonaro ganha mais de R$ 75 mil por mês.
Valor é oito vezes o patrimônio declarado ao TSE
Os R$ 17,1 milhões arrecadados pelas transferências por Bolsonaro equivalem a oito vezes o que ele diz ter acumulado em toda a vida. Na última eleição, ele declarou R$ 2,3 milhões em bens ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) .
'Vaquinha' foi divulgada nas redes sociais por apoiadores
Em junho, deputados e influenciadores bolsonaristas iniciaram uma campanha para pedir doações por Pix para o ex-chefe do Executivo, sob a justificativa de que o ex-presidente é vítima de "assédio judicial" e que precisa de ajuda para pagar "diversas multas em processos absurdos". Alguns aliados políticos publicaram nas redes sociais comprovantes das doações, com valores que iam de R$ 10 a R$ 1 mil.
O ex-presidente evitou comentar publicamente sobre o valor arrecadado na vaquinha. No dia 26 de junho, ele disse apenas que já havia levantado o suficiente para pagar condenações processuais. "A massa contribuiu com valores entre R$ 2 e R$ 22. Foi voluntário", disse Bolsonaro na ocasião, prometendo abrir os valores "mais para frente".
Montante daria para quitar multas, que ainda estão pendentes
A cifra revelada pelo Coaf seria suficiente para pagar cerca de 17 vezes as multas que levaram os apoiadores a fazer uma vaquinha para Bolsonaro. Mesmo com o valor na conta, o ex-presidente não pagou as multas com o Estado de São Paulo.
O registro de débitos inscritos na dívida ativa paulista aponta que o ex-chefe do Executivo tem sete multas na Secretaria de Saúde do Estado, que somam uma dívida de mais de R$ 1 milhão.
"Para que não se levantem suspeitas levianas e infundadas sobre a origem dos valores divulgados, a defesa informa que estes são provenientes de milhares de doações efetuadas via Pix por seus apoiadores, tendo, portanto, origem absolutamente lícita", diz a defesa em comunicado para a imprensa. A nota ainda informou que, nos próximos dias, adotará medidas legais cabíveis para investigar a autoria da divulgação dessas informações.