Visita de Bolsonaro a Aparecida (SP) é marcada por sermão de arcebispo e confusões

Antes, o presidente participou de um ato de campanha em uma igreja evangélica de Belo Horizonte (MG)

12 out 2022 - 14h04
(atualizado às 20h08)
O presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), participou de missa no Santuário de Aparecida (SP)
O presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), participou de missa no Santuário de Aparecida (SP)
Foto: ISAAC FONTANA/CJPRESS/Estadão Conteúdo

Em meio a vaias, aplausos e muita confusão, o presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), participou de uma missa no Santuário de Aparecida (SP) nesta quarta-feira, 12, dia que o Brasil celebra Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do País.

A agenda de campanha pode ser interpretada como uma busca pelos votos católicos que, segundo o Datafolha divulgado no sábado, 8, preferem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 55% das intenções de voto, contra 38% do atual presidente.

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Bolsonaro chegou ao santuário por volta das 14h para a celebração, depois de ter participado de um ato de campanha na Igreja Mundial do Poder de Deus, na capital mineira.

O candidato chegou acompanhado do senador eleito Marcos Pontes (PL), do candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos), Eduardo Bolsonaro (PL) e do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.

A chegada da comitiva causou tumulto dentro da igreja. Vaias e muita torcida puderam ser ouvidas.

Durante a homilia, o reitor do Santuário, Padre Eduardo Catalfo, afirmou que a Bíblia ensina que "Jesus expulsa do templo aqueles que não vêm movidos pela fé, movidos por Deus". Em outro momento, o padre também disse que é preciso "vencer os dragões do ódio", em uma referência à leitura bíblica rezada durante a celebração.

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Depois da celebração, o presidente visitou a Tenda dos Peregrinos, local onde são atendidas as pessoas que chegam a pé ao santuário. Ele foi aplaudido, mas não falou com apoiadores ou imprensa e foi embora em seguida, alegando dor de garganta.

Durante todo o tempo em que esteve nas dependencias do Santuário, a comitiva de Bolsonaro foi seguida por apoiadores ruidosos que vestiam verde e amarelo, camisetas com o rosto do presidente e com caveiras com a bandeira do Brasil. 

A reportagem presenciou poucas pessoas vestidas de vermelho --cor que caracteriza o PT, partido adversário do presidente. Ainda assim algumas vaias foram ouvidas durante a passagem de Bolsonaro.

A multidão constantemente gritava palavras de ordem louvando o presidente. "Aqui é Bolsonaro!", diziam uns. Em vários momentos também foi possível ouvir ofensas ao ex-presidente Lula (PT): "Lula ladrão, Bolsonaro é solução!". 

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Confusões

Um cinegrafista e uma repórter da TV Vanguarda, afiliada da Rede Globo, foram hostilizados por bolsonaristas com outros colegas de imprensa enquanto faziam imagens em frente a Basílica Histórica. Um homem, vestido com uma camiseta contra o atual presidente, passou ao lado da equipe, causando uma reação entre os apoiadores.

Os jornalistas que estavam próximos da confusão passaram a ser agredidos verbalmente e sofreram empurrões e pancadas. De acordo com a jornalista Daniele Lopes, da TV Vanguarda, no momento em que estavam na procissão, os apoiadores de Bolsonaro começaram a chamar a equipe de “comunista” e “Globo Lixo”, ao identificar o veículo de comunicação. Ela ainda afirmou que alguns tentaram agredir o cinegrafista. 

“Algumas pessoas tentaram agredi-lo fisicamente. Como eu estava sem microfone na hora, eu fiquei meio atrás. Poucas pessoas me reconheceram, até que um rapaz me reconheceu, e começou a mandar a gente sair de lá, mandou a gente voltar para São José, que a TV Aparecida já tem a própria TV. Ficou mandando a gente sair”, relata. A equipe saiu de lá escoltada por um segurança.

Além disso, um jovem que vestia camiseta vermalha foi alvo de uma multidão de apoiadores, que gritava "mito", enquanto a comitiva de Bolsonaro estava e uma tenda de peregrinos, em frente à basílica.

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De acordo com a Folha de S. Paulo, o rapaz foi encurralado em um círculo, e quando tenou fugir, foi perseguido por uma multidão, que gritava "Lula, ladrão, seu lugar é na prisão", além de "a nossa bandeira jamais será vermelha". Ele não se machucou e conseguiu fugir após sumir por entre os corredores da igreja.

Críticas e indiretas

A visita de Bolsonaro à cidade aconteceu um ano depois do presidente ser alvo de uma indireta do arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes. Na época, o arcebispo fez um trocadilho com o slogan de campanha do atual presidente e sua defesa da pauta armamentista. "Para ser pátria amada, não pode ser pátria armada", afirmou na ocasião o arcebispo.

Jair Bolsonaro (PL) participou de um ato de campanha na Igreja Mundial do Poder de Deus, na capital mineira.
Foto: AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA

"Para ser pátria amada, seja uma pátria sem ódio. Para ser pátria amada, uma república sem mentira e sem fake news", disse um ano antes, sem citar o presidente. "Pátria amada sem corrupção".

No entanto, nesta quarta, logo no início da celebração, Dom Orlando Brandes saiu da procissão para cumprimentar o presidente. A missa foi rezada por ele e conduzida pelo missionário redentorista Pe. Marlos Aurélio e pelo reitor do Santuário Nacional, Pe. Eduardo Catalfo.

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Mesmo assim, novas críticas foram feitas, indiretamente, ao presidente. Ao ser questionado sobre eventual uso político-eleitoral das celebrações, o arcebispo defendeu que os fiéis devem ter uma "identidade religiosa".

"Eu não posso julgar as pessoas, mas nós precisamos ter uma identidade religiosa. Ou somos evangélicos ou somos católicos. Então, nós precisamos ser fiéis à nossa identidade católica. Mas, seja qual for a intenção, (Bolsonaro) vai ser bem recebido, pois é o nosso presidente", afirmou Dom Orlando a jornalistas.

Durante a celebração, Bolsonaro se recusou a comungar.

Em outra celebração, a tradicional Consagração a Nossa Senhora, que acontecia no interior da Basílica Histórica, o missionário redentorista Padre Camilo Júnior teceu mais uma indireta a presença do presidente.

"Parabéns a você que está aqui dentro da Basílica, rezando. Você que entendeu que hoje é dia de Nossa Senhora Aparecida, é ela as nossas palmas (...) Porque hoje não é dia de pedir voto, hoje é dia de pedir benção!". 

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Jair Bolsonaro (PL) participou de um ato de campanha na Igreja Mundial do Poder de Deus, na capital mineira
Foto: Gilson Junio/AGIF via Reuters Connect

Agenda religiosa

Antes de chegar à Aparecida, Bolsonaro esteve em um evento em Belo Horizonte onde, ao lado do governador reeleito, Romeu Zema (Novo), e do pastor Valdemiro Santiago, ex-bispo da Igreja Universal e fundador da Igreja Mundial do Poder de Deus, pediu votos aos mineiros.

“Eu peço a Deus que ilumine cada um de vocês no próximo dia 30 de outubro para bem decidir quem vai comandar o nosso Brasil. Se estamos dando certo até o momento, peço a vocês humildemente essa oportunidade de, ao lado do governador Zema, comandarmos Minas Gerais e o nosso Brasil”, disse.

Fonte: Redação Terra
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