Braga Netto diz que Bolsonaro não se referiu à PF em reunião

O ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, afirmou que Bolsonaro revelou a intenção de trocar sua segurança pessoal no RJ e não a PF

12 mai 2020 - 21h47
(atualizado às 21h57)

O ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro havia revelado na reunião ministerial do dia 22 de abril sua intenção de trocar a "segurança do Rio de Janeiro", referindo-e à segurança pessoal dele, a cargo do Gabinete da Segurança Institucional (GSI), não tendo relação com a Polícia Federal.

Ministro Walter Braga Netto
03/04/2020
REUTERS/Adriano Machado
Ministro Walter Braga Netto 03/04/2020 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

"Na perspectiva do depoente ao citar 'segurança do Rio', o presidente Jair Bolsonaro apenas fez referência como ilustração da insatisfação", disse Braga Netto, segundo o depoimento nesta quarta-feira no inquérito que investiga declarações do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro de que Bolsonaro tentou interferir politicamente no comando da PF, obtido pela Reuters com uma fonte.

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O ministro da Casa Civil seguiu a linha das falas públicas do presidente de tentar se desvincular das acusações de Sergio Moro. O ex-ministro disse que, na reunião do dia 22, Bolsonaro cobrou-lhe a troca do superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, sob ameaça de sua demissão assim como a do então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo.

Em duas entrevistas, após a transmissão do vídeo a envolvidos no caso, Bolsonaro disse que em nenhum momento falou em superintendência nem em Polícia Federal na reunião ministerial do dia 22, dois dias antes do pedido de demissão de Moro.

Esse encontro --que teve um vídeo gravado-- é tratado como uma da principais provas para tentar confirmar as declarações do ex-ministro.

Contudo, em seu depoimento, Braga Netto disse que na reunião o presidente não chegou a expressar sobre substituição do superintendente da PF no Rio, "reservando-se a expressar a sua inquietude, como já dito, sobre os dados de inteligência do Sisbin, mais precisamente dos dados que deveriam se fornecidos pela Defesa Nacional e pela Abin".

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"(...) A reclamação se tratava principalmente da demora do fornecimento de dados", disse o ministro, acrescentando não se recordar se o ministro do GSI, Augusto Heleno, tenha afirmado em qualquer oportunidade que o tipo de relatório de inteligência de interesse do presidente não poderia ser definido.

DIREÇÃO-GERAL

O ministro confirmou ter ido a uma conversa com Moro ao lado dos colegas de Planalto Augusto Heleno e Luiz Eduardo Ramos, titular da Secretaria de Governo, na véspera da demissão do então ministro da Justiça. Na ocasião, segundo Braga Netto, Moro afirmou que Bolsonaro havia dito que iria trocar Valeixo.

Braga Netto disse que Moro não concordava com a "interferência específica nessa substituição e teria uma biografia a manter". Segundo o ministro, ele e os demais colegas procuraram "acalmar" Moro, uma vez que sinalizou sua saída do governo caso se concretizasse tal troca.

O chefe da Casa Civil afirmou ainda que, para "acalmar" Moro, disseram "vamos conversar", destacando a necessidade de manter aberto o canal de comunicação entre todos. Segundo ele, entretanto, não houve compromisso de demover o presidente dessa intenção.

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Braga Netto disse que não chegou a conversar com o presidente sobre o assunto, nem se o demais ministros o fizeram. Ele também afirmou que não buscou uma "solução intermediária" naquele dia para o comando da PF.

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