Caiado e Bolsonaro 'entre tapas e beijos': entenda as idas e vindas da relação entre os políticos

Governador de Goiás e ex-presidente romperam depois de divergirem no combate à pandemia de covid-19 em 2020 e, após uma reaproximação, tiveram novo embate nas eleições municipais

29 out 2024 - 20h56

BRASÍLIA - A relação entre o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teve um novo capítulo de conflito com a eleição para prefeito em Goiânia (GO), definida em segundo turno neste domingo, 27. Políticos aliados, os dois se distanciaram de olho no domínio da direita e na candidatura de oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2026.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (PSD)
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (PSD)
Foto: Wilton Junior/Estadão / Estadão

Não é a primeira vez que os dois entram em conflito. Dois anos antes do pleito entre Sandro Mabel (União) e Fred Rodrigues (PL), vencido pelo candidato de Caiado, o governador de Goiás se colocou como um opositor ao posicionamento de Bolsonaro na condução da crise sanitária.

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Caiado apoiou a candidatura de Bolsonaro à Presidência da República no segundo turno das eleições de 2018. No início do mandato do ex-presidente, o goiano se consolidou como um dos aliados mais próximos do então chefe do Executivo.

O primeiro rompimento ocorreu em março de 2020, quando os primeiros casos de coronavírus foram confirmados no País. Bolsonaro foi contrário ao isolamento social, recomendado por especialistas, e Caiado afirmou que o ex-presidente estava "lavando as mãos" e responsabilizando outras pessoas pela transmissão do vírus entre a população.

"Fui aliado de primeira hora, durante todo tempo, mas não posso admitir que venha agora um presidente da República lavar as mãos e responsabilizar outras pessoas por um colapso econômico ou pela falência de empregos que amanhã venha a acontecer. Não faz parte da postura de um governante", disse Caiado em discurso no Palácio das Esmeraldas, sede do governo goiano. No mesmo pronunciamento, o governador disse que iria se comunicar com Bolsonaro apenas por mensagens institucionais.

Em outros momentos da pandemia, Caiado distribuiu outras críticas ao então presidente. Em dezembro de 2020, o governador de Goiás chegou a sugerir que Bolsonaro estava querendo "confiscar" vacinas contra a covid-19 que estavam em fase final de testes. Segundo o chefe do Executivo goiano, o Ministério da Saúde que, na época, era chefiado por Eduardo Pazuello - hoje deputado federal - havia repassado aos Estados que os imunizantes deveriam ser "requisitados pelo Planalto".

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"Nenhum Estado vai fazer politicagem e escolher quem vai viver ou morrer de covid-19?, disse Caiado pelo X (antigo Twitter) na ocasião.

Na época, o Ministério da Saúde emitiu uma nota desmentindo Caiado sobre o "confisco dos imunizantes". Aliados de Bolsonaro chegaram a comentar que o goiano havia "exagerado" nas declarações sobre o tema.

Os dois se reaproximaram dois anos depois, com a chegada das eleições presidenciais de 2022. Histórico adversário de Lula, Caiado declarou apoio ao ex-presidente no segundo turno das eleições presidenciais.

Com Bolsonaro se tornando inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Caiado procurou se aproximar do ex-presidente em busca de se tornar o candidato da direita em 2026. Um dos gestos do goiano foi participar do palanque de Bolsonaro no ato que ele fez na Avenida Paulista em fevereiro deste ano, onde ele se defendeu das acusações de tramar um golpe de Estado após as eleições de 2022.

No ano passado, Caiado chegou a fazer um discurso recheado de elogios a Bolsonaro quando o ex-presidente recebeu o título de cidadão goiano pela assembleia legislativa do Estado. Em outra visita à Goiânia, quando foi fazer um procedimento estético, o ex-chefe do Executivo dormiu no Palácio das Esmeraldas após um convite do governador.

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Porém, os planos de Caiado de se candidatar à Presidência como o nome da direita vai de encontro com os de Bolsonaro. O ex-presidente ainda se apresenta como o candidato da oposição e aposta em uma anistia concedida pelo Congresso Nacional para participar do próximo pleito.

Eleição para prefeito em Goiânia expõe racha na direita

A nova desavença entre Caiado e Bolsonaro ocorre após Bolsonaro ir a Goiânia na tentativa de alavancar a candidatura de Fred Rodrigues. Caiado julga que, por ter apoiado o ex-presidente nas eleições passadas, a participação dele na disputa na capital goiana foi uma "traição".

Em entrevista ao Estadão, Caiado disse que a postura de Bolsonaro na reta final das eleições foi "deselegante" e "desrespeitosa". O governador também afirmou que a direita não tem "dono" e que não teme sofrer retaliação de bolsonaristas em Goiás.

"Eles nem sequer sentaram para conversar. Então, o que ocorreu em Goiás foi uma falta de habilidade política. Faltou humildade e sobrou deselegância da parte deles em achar que bastava lançar um número, independentemente do candidato, que ganharia as eleições", disse Caiado ao Estadão.

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Em resposta, Bolsonaro compartilhou o discurso de Caiado no dia em que o ex-presidente recebeu o título de cidadão goiano. "O governador de Goiás tem criticado duramente Bolsonaro e Gustavo Gayer (deputado federal do PL goiano) por ocasião das eleições municipais. Agora vejam os elogios de Caiado a Bolsonaro em 2023, dia em que o JB tornou-se cidadão goiano", disse o ex-presidente no X (antigo Twitter) na manhã desta terça-feira.

Também nesta terça, Bolsonaro afirmou, em uma coletiva de imprensa no Senado, que Caiado considera como inimigos os políticos que o desagrada. O ex-presidente ainda relembrou as idas e vindas da relação entre os dois.

"O Caiado é uma pessoa que, se você o desagrada, ele vira teu inimigo. Em quatro momentos, ele rompeu comigo enquanto na Presidência da República. Um momento (foi) agora, ele tinha um candidato, eu tinha outro. O outro foi fruto da desistência do Gayer. Logicamente, começou mais para baixo. Nós enfrentamos lá o governo do Estado, a prefeitura e também uma busca e apreensão inexplicável na quinta-feira que antecedeu a eleição", afirmou Bolsonaro.

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