O ex-ministro da Cultura Marcelo Calero negou em entrevista ao programa "Fantástico", da TV Globo, que tenha gravado qualquer encontro presencial com o presidente Michel Temer.
Ele admitiu, no entanto, ter registrado outra conversa entre os dois, por telefone, mas alega que se tratou de um diálogo "burocrático" e "protocolar", sobre seu pedido de demissão.
Calero acrescentou que, além de Temer, gravou outros ministros por "orientação de amigos da Polícia Federal" com objetivo de "me proteger e dar o mínimo de lastro probatório" ao seu depoimento.
"Tive a preocupação inclusive de não induzir o presidente a entrar em qualquer tema para não criar prova contra si", afirmou, em alusão a seu desligamento da pasta.
Calero deixou o cargo no dia 18 após, segundo ele, ter sofrido pressões indevidas de autoridades do governo Temer, inclusive do próprio presidente, para atuar no sentido de viabilizar a liberação da construção de um prédio de 30 andares em área histórica de Salvador.
O pedido partiu inicialmente do ex-ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo), que possui um apartamento nesse empreendimento, comprado na planta. O Iphan, órgão do Ministério da Cultura, é o responsável por liberar ou barrar a obra.
Calero contou que em um primeiro contato com Temer, após um jantar dia 11, o presidente teria apoiado sua decisão de não interferir na questão. No entanto, no dia seguinte, Temer teria o convocado com urgência ao Planalto e indicado que ele remetesse o caso para a Advocacia Geral da União, que resolveria a questão.
"Em menos de 24 horas todo aquele respaldo que me havia garantido ele me retira e me determina que eu criasse uma manobra, um artifício, uma chicana como se diz no mundo jurídico, para que o caso fosse levado à AGU", acusou Calero.
Ao "Fantástico", Calero disse também que gravou outras autoridades, mas não revelou quais. Outro ministro que se envolveu na questão foi Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil.
"Ficava patente que altas autoridades da República perdiam seu tempo em favor de um assunto paroquial, que se referia ao interesse particular de um ministro", disse.
'Indigno e gravíssimo'
Em coletiva mais cedo, Temer disse que Calero solicitou uma audiência presencial apenas para gravá-lo e que isso era "indigno" e "gravíssimo".
O ex-ministro da Cultura nega que tenha feito isso. "Isso é um absurdo. Isso só serve para alimentar essa campanha difamatória e desviar os focos das atenções", rebateu.
"Certemente eles acharam que, para preservar o meu cargo de ministro eu faria qualquer negócio. Eu jamais faria qualquer negócio para preservar cargo nenhum", disse ainda.