BRASÍLIA - A Comissão de Ética Pública (CEP) liberou o ex-presidente do Banco Central Roberto Campos Neto para ser palestrante em três eventos que serão realizados no Brasil e nos Estados Unidos, entre março e maio deste ano. O órgão julga potenciais situações de conflitos de interesse de altos funcionários e ex-funcionários públicos e eventualmente barra atividades privadas dessas pessoas.
Em nota, Roberto Campos Neto informou que "não houve qualquer contratação e que submeteu os convites que recebeu em razão do seu compromisso com a ética e a transparência nas suas relações profissionais". "Nota-se, inclusive, que a autorização da CEP demonstra sua boa-fé e a pertinência do pedido", diz.
A relatora do processo, Vera Karam de Chueiri, concluiu que não existe "conflito de interesses nas propostas [para proferir palestras] apresentadas" e a atuação de Campos Neto à frente da autoridade monetária.
O parecer, aprovado em 27 de janeiro e tornado público nesta semana, liberou o economista para participar de ciclos de palestras. "Ressalta-se que as informações privilegiadas às quais o consulente tenha tido acesso no exercício de suas atribuições públicas devem ser resguardadas a qualquer tempo", diz. O documento não menciona remuneração.
Os eventos já programados e mencionados por Campos Neto ao colegiado são:
- Mondelez - palestra no evento "Premiação Max Excellence 2024, evento fechado para funcionários e convidados da empresa em São Paulo. Será na Casa Fasano, entre 13 e 17 de março;
- Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) - palestra no 8º Seminário de Finanças e Governança Corporativa, que será realizado no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba (PR), em 13 de maio;
- Riverwood Capital - palestra no Latin America Tech Forum, que será realizado de 24 a 25 de abril em Miami, nos Estados Unidos.
O agora ex-presidente do Banco Central argumentou se tratarem de palestras com "caráter eminentemente técnico e educativo". De acordo com ele, as declarações que serão proferidas "não envolvem informações sigilosas ou sensíveis adquiridas durante o exercício da função pública".
Campos Neto também disse, em sua petição inicial, que os contatos profissionais que culminaram nos convites para as palestras não foram cultivados durante seu período à frente da autoridade monetária. "Sua participação foi restrita ao âmbito técnico e institucional, sendo convidado exclusivamente em virtude da relevância de sua atuação no mandato relacionado à digitalização do sistema financeiro nacional", afirmou petição inicial do economista.
Roberto Campos Neto foi presidente do Banco Central de 2019 a 2025. Ele foi o primeiro chefe da autoridade monetária a ter mandato, mecanismo criado em 2021 com a sanção da autonomia do BC.