Cotado como pré-candidato à Presidência da República, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou nesta sexta-feira em Paris que "o povo" é quem definirá qual será a melhor candidatura e declarou, em entrevista exclusiva à BBC Brasil, que não descarta a possibilidade de disputar outro cargo político.
Para Doria, as pesquisas de opinião são uma forma de atestar a preferência da população - o prefeito vem tendo melhor desempenho nas pesquisas eleitorais para 2018 do que seu padrinho político, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, também do PSDB.
O prefeito fez uma palestra em Paris no "Positive Global Forum", que discutiu iniciativas em áreas como educação, saúde e meio ambiente.
Após o evento, Doria se reuniu com o presidente francês, Emannuel Macron, no palácio do Eliseu. O encontro é incomum, já que somente presidentes brasileiros costumam ser recebidos por líderes franceses. A reunião não estava na agenda oficial de Macron.
A reunião foi possível graças a intermediação do economista francês Jacques Attali, presidente do "Positive Global Forum".
Doria encerra a visita à capital francesa no sábado, quando deve ter um encontro com o primeiro-ministro francês, Édouard Philippe.
A seguir, a entrevista do prefeito de São Paulo à BBC Brasil:
BBC Brasil - O senhor estuda ser candidato à Presidência? O senhor tem feito viagens que podem indicar uma possível campanha.
Doria - Estudo continuar sendo prefeito da cidade de São Paulo. Fui eleito para isso. São Paulo é uma cidade global, não é uma província. Quero que ela seja cada vez mais global. Por conta disso tenho atraído o interesse de grupo de investidores.
Estamos fazendo o mais amplo programa de privatização na história de um município brasileiro. Para isso é preciso mostrar os benefícios e conversar com os investidores. Eles gostam de sentir olho no olho o que pensa o prefeito da cidade e que tipo de ambiente eles vão encontrar. Viajo e continuarei a viajar. Sou um prefeito global.
BBC Brasil - Se o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, não for candidato à Presidência, o senhor vai se candidatar?
Doria - Não dá para fazer essa colocação agora. Nós temos uma decisão do PSDB que vai provavelmente se materializar em dezembro. Se assim for, se saberá nessa data.
BBC Brasil - Quando o senhor se candidatou a prefeito, disse que não seria político nem disputaria mais eleições. O senhor mudou de ideia?
Doria - Eu disse que não seria político, como de fato não sou. Eu estou na política. E disse que não disputaria reeleições, não falei sobre eleições, me referi a reeleições. E continuo mantendo essa posição.
BBC Brasil - Ou seja, o senhor não será mais prefeito, mas isso não exclui então a disputa de outro cargo?
Doria - Essa não é uma deliberação, mas também não é uma exclusão.
BBC Brasil - Quem seria hoje o melhor candidato do PSDB na avaliação do senhor?
Doria - Aquele que a população desejar e se manifestar. Não se podem imaginar decisões que estejam desvinculadas do interesse da população. O Brasil já errou no passado, mas é melhor errar votando do que imaginar que na indicação você possa ter nomes que atendam a população.
Portanto, a melhor forma para qualquer partido definir quais serão os seus candidatos é verificar qual é a identidade que eles possuem com a população e qual a manifestação que a população pode oferecer na avaliação deste ou daquele candidato. Hoje os mecanismos de pesquisas são sérios, corretos e bem amparados. Não é a única forma (as pesquisas de opinião), mas é uma delas.
BBC Brasil - Se Lula não for candidato à Presidência, quem seria o principal adversário do candidato do PSDB?
Doria - Eu defendo que Lula seja candidato. E que a Justiça permita que ele seja candidato. Para que ele possa disputar e perder a eleição. Com isso, nós vamos enterrar o mito Lula e pacificar o Brasil.
Depois, a Justiça poderá dar sua sentença e realizar aquilo que entender que é adequado em relação aos sete processos que o ex-presidente Lula responde, sendo que um deles já foi transitado em julgado.
BBC Brasil - Se eventualmente o senhor for candidato, haveria possibilidade de se aliar ao Jair Bolsonaro e aceitar seu apoio?
Doria - Não respondo na condição de pré-candidato ou possível candidato, quero deixar isso claro. Entendo que para o Brasil nenhuma das alternativas de extrema, seja de esquerda ou de direita, representa aquilo que a maioria do povo brasileiro deseja.
A única coisa que não compreendo, e não me refiro ao Bolsonaro, são a intolerância, as agressões e manifestações odiosas. O debate faz parte do processo democrático. A decisão caberá ao povo.
BBC Brasil - Na coletiva de imprensa há pouco, o senhor disse que o presidente francês o inspira. Macron deixou o governo, se distanciou do ex-presidente François Hollande, que o apadrinhou, e fundou seu próprio movimento. O senhor poderá tomar um caminho semelhante?
Doria - Não é essa a inspiração. A inspiração que tenho em relação a Macron é a sua determinação, sua força, sua capacidade inovadora e o discurso convincente que ele utilizou durante a campanha, mudando os rumos da política francesa. Ele já deu uma contribuição extraordinária à política da França.
BBC Brasil - O senhor indicou que não tem planos de sair do PSDB. Isso é algo impensável ou pode mudar?
Doria - Eu me filiei ao PSDB por minha opção, não fui convidado. E fiz isso ainda como empresário, sem nenhuma intenção eleitoral. Nem imaginava, muitos anos depois, disputar a Prefeitura pelo PSDB e vencer. Nunca digo que no futuro as coisas não possam ser diferentes do que é hoje. Mas eu não preparo, não desenho esse futuro.
Em relação ao DEM, ao PMDB e outros partidos que têm manifestado posições positivas em relação à nossa gestão, reconheço a base de apoio que nos dão na Câmara Municipal de São Paulo.
BBC Brasil - O senhor se sente mais próximo do governador Alckmin ou do presidente Michel Temer?
Doria - O Geraldo Alckmin é um amigo de 37 anos. Essa amizade não nasceu com a política. É um homem de bem, correto, que merece amplamente meu respeito e a amizade que dedico a ele e ele a mim.
Não desrespeito o presidente Temer. Entendo que ele está fazendo uma gestão de transição, o melhor esforço possível para pacificar o país, inclusive assumindo medidas impopulares, no âmbito de apoiar reformas, como a da Previdência, e iniciar o mais amplo programa de privatização no plano federal desde Fernando Henrique Cardoso.
Tudo isso não gera popularidade. É um esforço que ele está fazendo e que eu reconheço. Entendo que é a hora do Brasil caminhar pacificamente para as eleições em outubro de 2018.