Antigos integrantes do Palácio do Planalto relataram que Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro e vereador do Rio de Janeiro, tomava todo tipo de cuidado com seu celular, segundo o blog de Bela Megale, no jornal O Globo. O aparelho foi apreendido na segunda-feira, 29, em operação da Polícia Federal (PF) que investiga a 'Abin paralela'.
Conforme a publicação, as fontes descreveram Carlos como "paranoico" com o celular e com "mania de perseguição". Eles relataram que o vereador trocava com frequência o número de telefone e o aparelho que usa.
De acordo com ex-ministros, as trocas chegaram a acontecer a cada três meses quando ele passava por períodos de maior preocupação. Outras pessoas afirmaram que ele usava mais de um chip nos seus aparelhos.
As fontes ainda disseram que o filho do ex-presidente não usava foto no perfil do WhatsApp, era reservado e raramente respondia e encaminhava mensagens para integrantes do governo. Ele tinha receio de ser alvo de "espionagens" ou de uma operação da PF.
Alvo da Polícia Federal
Carlos Bolsonaro foi alvo na segunda-feira, 29, da Operação Vigilância Aproximada, que investiga suposto esquema de monitoramento ilegal de autoridades públicas por meio da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A investigação aponta que o ex-diretor da Abin e atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) usou a estrutura do órgão para fazer espionagens ilegais que favoreceriam a família de Bolsonaro. O parlamentar dirigiu a Abin durante o governo Jair Bolsonaro e foi alvo da PF na semana passada.
Ao todo, foram autorizados nove mandados de busca e apreensão: cinco no Rio de Janeiro (RJ), um em Brasília (DF), um em Formosa (GO) e um em Salvador (BA). Buscas também foram realizadas na casa de Angra dos Reis (RJ), onde Carlos Bolsonaro passou a noite após fazer uma live com o pai. A residência de Carlos e a Câmara Municipal do Rio de Janeiro estão entre os outros endereços alvos de buscas.
A suspeita da PF é de que Carlos teria recebido "materiais" obtidos ilegalmente pela Abin, de acordo com o blog da jornalista Camila Bomfim, da GloboNews. Assessores também foram alvos da ação da Polícia.
Em entrevista à CNN Brasil, Jair Bolsonaro disse que Carlos tem um depoimento marcado para esta terça-feira, 30, na PF. No entanto, ele afirmou que o depoimento estava previsto mesmo antes da operação, em um processo que corre em segredo de Justiça. O ex-presidente não negou que Carlos tenha pedido informações à Ramagem, mas disse duvidar que de que o filho tenha feito isso. Ele também negou ter recebido quaisquer informações antecipadamente sobre a operação de segunda.
As buscas e apreensões de segunda-feira miram aliados do "núcleo político" de Ramagem. "Nesta nova etapa, a Polícia Federal busca avançar no núcleo político, identificando os principais destinatários e beneficiários das informações produzidas ilegalmente no âmbito da Abin, por meio de ações clandestinas. Nessas ações eram utilizadas técnicas de investigação próprias das polícias judiciárias, sem, contudo, qualquer controle judicial ou do Ministério Público", informou a PF.
Os investigados podem responder pelos seguintes crimes:
- invasão de dispositivo informático alheio;
- organização criminosa; e
- interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei.
A Abin é o órgão responsável por fornecer informações e análises estratégicas à Presidência da República para contribuir na tomada de decisões.
A reportagem busca contato com Carlos Bolsonaro sobre a operação. O espaço está aberto para manifestações.