O ex-presidente Jair Bolsonaro será ouvido pela Polícia Federal (PF) nesta terça-feira, 16, em Brasília, para explicar suposto esquema de fraude nos cartões de vacina, que envolve seus familiares e assessores próximos, incluindo Mauro Cid, que está preso.
Os investigadores pretendem confrontar a principal tese sustentada pela defesa do ex-presidente, que alega que Cid atuou de maneira independente, sem a anuência de Bolsonaro.
À medida que as investigações avançam, a PF reúne evidências sobre o conhecimento de Bolsonaro. Uma delas está relacionada à substituição do e-mail associado à conta do ex-presidente no aplicativo ConecteSUS no final de seu mandato. Nessa transição, a gestão do e-mail foi transferida do tenente-coronel para Marcelo Costa Câmara, um assessor que permaneceu ao lado do bolsonarista mesmo após o término de sua gestão.
Esse fato deve ser utilizado para contestar uma eventual alegação de que Cid agiu de forma isolada, sem a autorização do ex-presidente. O militar, que irá depor na quinta-feira, 18, tem recebido orientações para assumir toda a responsabilidade sobre o caso.
Envolvimento de Cid
A partir da quebra de sigilo, surgiu uma nova linha de investigação em relação às mensagens de Cid, revelando seu envolvimento ativo na articulação do suposto esquema de falsificação dos documentos de imunização, de acordo com informações da PF.
Os investigadores também descobriram que dados falsos dele, de sua esposa e filhas foram inseridos no sistema da Saúde, tornando-o beneficiário das fraudes em questão. Paralelamente, houve uma abordagem direcionada ao ex-presidente.
Entenda investigação
De acordo com a investigação, até o dia 22 de dezembro do ano passado, o login de Bolsonaro no aplicativo ConecteSUS estava vinculado ao e-mail de Cid. Nessa data, um certificado de vacinação falso foi gerado, registrando duas doses da vacina da Pfizer para o ex-presidente.
Poucos minutos depois, houve uma alteração no e-mail de login, substituindo-o pelo e-mail do coronel Marcelo Costa Câmara, que na época era assessor especial da Presidência e foi nomeado para auxiliar Bolsonaro após o término de seu mandato.
Segundo a PF, a alteração ocorreu devido à iminente saída de Cid de seu cargo como ajudante de ordens de Bolsonaro. A partir de 1º de janeiro deste ano, o ex-presidente passaria a contar com o auxílio de oito assessores, incluindo o coronel Câmara, um indivíduo de confiança do ex-mandatário que o acompanharia em suas viagens para a Flórida.
Conforme investigado, a modificação cadastral foi realizada por meio da conexão de rede proveniente do Palácio do Planalto, o que constitui mais uma evidência de que Bolsonaro tinha conhecimento da fraude.
Até o momento, as evidências coletadas fortaleceram duas vertentes de investigação: a primeira diz respeito ao crime de inserção de informações falsas no sistema eletrônico do Ministério da Saúde, cuja comprovação pode resultar em uma pena de até 12 anos de prisão. A segunda linha de investigação se refere à formação de uma associação criminosa com o objetivo de cometer o referido crime, sendo que a punição para essa conduta pode alcançar até três anos de reclusão.