Celso Sabino: o que pode levar Lula a dar ministério a ex-aliado de Bolsonaro

Com possível troca na pasta, governo tenta garantir apoio de parlamentares do União Brasil no Congresso.

15 jun 2023 - 05h12
(atualizado às 07h30)
Sabino é o nome indicado por seu partido para substituir a atual ministra, deputada Daniela Carneiro
Sabino é o nome indicado por seu partido para substituir a atual ministra, deputada Daniela Carneiro
Foto: Câmara dos Deputados / BBC News Brasil

Com a promessa de mais apoio ao governo no Congresso Nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve anunciar o deputado Celso Sabino (União-PA) como novo ministro do Ministério do Turismo.

Ex-aliado de Bolsonaro, Sabino é o nome indicado por seu partido para substituir a atual ministra, a deputada federal Daniela Carneiro (União-RJ), que deseja trocar a sigla pelo Republicanos, que não integra a base de Lula.

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A troca é dada como certa no Palácio do Planalto, mas a data do anúncio ainda não está fechada, segundo a BBC News Brasil apurou.

Carneiro participa nesta quinta-feira (15/6) de uma reunião de Lula com todos os ministros. A previsão é que ela faça um balanço da sua gestão, dando um tom de despedida do governo.

O objetivo da troca é aumentar o apoio da sigla ao governo, principalmente na Câmara dos Deputados, onde a bancada tem dado apoio inconstante em votações de interesse do governo.

O União Brasil é um dos maiores partidos do Congresso, com 61 deputados e 9 senadores.

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Políticos ligados ao União Brasil controlam três ministérios, mas Carneiro é vista como uma escolha pessoal de Lula.

As outras duas indicações são atribuídas ao senador Davi Alcolumbre (União-AP), que não tem influência relevante sobre deputados do partido.

Uma delas é a do deputado federal Juscelino Filho (União-MA), que comanda o Ministério das Comunicações. A outra, no Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, é Waldez Góes, ex-governador do Amapá que está licenciado do PDT — ou seja, não integra o União Brasil.

A expectativa é que a substituição de Carneiro por Sabino melhore o apoio entre os deputados porque a indicação do deputado tem apoio de dois nomes de peso na Câmara: o líder do partido na Casa, Elmar Nascimento (União-BA), e o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).

O próprio Nascimento chegou a ser cotado para ministro quando Lula estava montando sua equipe após ser eleito, mas seu nome foi barrado pelo PT da Bahia, pesando contra ele justamente seu passado bolsonarista.

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'Espaço de manobra encolheu'

Para o cientista político Creomar de Souza, professor da Fundação Dom Cabral e fundador da consultoria política Dharma, a esperada nomeação de Sabino segue "uma lógica de sobrevivência do governo, do ponto de vista pragmático".

Na sua visão, o fato de a proximidade com Bolsonaro não parecer mais razão de veto para comandar um ministério mostra que o "espaço de manobra" do governo encolheu. (Veja abaixo o histórico de Sabino)

"Caso a indicação se confirme, isso mostra que talvez o espaço de manobra do governo para dizer não (a indicações partidárias) nesse momento, nessa conjuntura, é menor do que era no início de janeiro", analisa.

O apetite do União Brasil por cargos não se limita ao comando do ministério do Turismo.

Nesta semana, Elmar Nascimento disse a jornalistas que a sigla deseja o "o ministério completo, com todas as posições, porque é um ministério pequeno".

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Estaria no foco, portanto, também a chefia da Embratur, empresa pública de fomento ao turismo que hoje é presidida por Marcelo Freixo (PT-RJ).

Procurado pela BBC News Brasil, o deputado Celso Sabino disse que não poderia dar entrevistas até que seu nome fosse confirmado.

Daniela Carneiro também foi procurada por meio da assessoria do ministério, mas não houve retorno. A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República também não respondeu ao contato da reportagem.

Daniela Carneiro é a atual ministra do Turismo
Foto: RICARDO STUCKERT/PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA / BBC News Brasil

Sai evangélica, entra bolsonarista?

Deputada federal mais votada do Rio de Janeiro na última eleição, Carneiro ganhou o ministério após ela e seu marido, o prefeito de Belford Roxo, Wagner Carneiro, conhecido como Waguinho, terem apoiado Lula no segundo turno da eleição de 2022 contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Waguinho trocou o União Brasil pelo Republicanos em abril, e a expectativa é que Carneiro siga pelo mesmo caminho.

O apoio dos dois a Lula foi considerado importante, porque veio de lideranças políticas conservadoras, de uma região com forte eleitorado evangélico, grupo em que Lula teve dificuldades na disputa eleitoral.

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No entanto, como Carneiro solicitou autorização da Justiça Eleitoral para trocar o União Brasil pelo Republicanos, que não integra a base de Lula, o presidente deve atender a nova indicação do partido.

"Seria um erro muito grande tirar a mulher mais votada do Rio, evangélica, para botar um deputado bolsonarista, o Celso Sabino, que foi contra o Lula", disse Waguinho ao jornal O Globo.

Já Sabino foi líder da maioria na Câmara durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), quando o presidente construiu uma ampla base em parceria com Arthur Lira, por meio da liberação de verbas federais para parlamentares investirem em suas bases por meio das chamadas emendas de relator.

Essas emendas ficaram conhecidas como Orçamento Secreto, devido à falta de transparência na destinação e aplicação dos recursos, e declaradas inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

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Segundo informações do jornal O Globo, Sabino esteve entre os 30 parlamentares federais que mais indicaram recursos do Orçamento Secreto em 2022, com R$ 54,1 milhões — R$ 9 milhões a mais que o indicado por Daniela Carneiro.

Apesar da proximidade com o governo anterior, Sabino disse no ano passado ao jornal O Estado de S.Paulo não ser bolsonarista, mas "a favor do Brasil".

Na ocasião, ele estava no PSDB e sofreu uma tentativa de expulsão do partido, após assumir a liderança da maioria na Câmara.

"Não tenho nenhum cargo ou pleito no governo federal. A (liderança) da maioria não significa alinhamento com o governo", disse Sabino ao Estadão.

No PSDB, o provável novo ministro do Turismo era aliado próximo do deputado Aécio Neves (PSDB-MG) e foi autor do relatório que rejeitou a expulsão do antigo presidenciável da legenda, após denúncias de corrupção pela Operação Lava Jato.

No seu passado tucano, o deputado também criticou em 2016 a decisão da então presidente Dilma Rousseff de nomear Lula como ministro da Casa Civil, quando estava perto de ser afastada por um processo de impeachment.

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O petista acabou não assumindo o cargo, após decisão do ministro do STF Gilmar Mendes, que considerou a nomeação uma tentativa de conceder foro privilegiado ao atual presidente.

"A chefa do Executivo nacional aceitou a manobra do seu partido para garantir o foro privilegiado ao homem que poderia ser preso por crimes como lavagem de dinheiro para não citar outros. Assim caminha a atual conjuntura política brasileira", disse Sabino no Facebook, em post que foi apagado após reportagem do jornal O Estado de S.Paulo.

Mais que um bolsonarista, Sabino é um "político de conveniência", avalia o analista político Antônio Augusto de Queiroz, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).

"Ele foi um aliado importante (de Bolsonaro), mas é um agente político de conveniência. Então, acompanha qualquer governo que lhe dê acesso (a cargos e verbas), que lhe faça concessões", ressalta.

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"Ele é vinculado ao Centrão (grupo de partidos mais fisiológicos), atua sob a liderança do Elmar Nascimento e do Lira, e vai cumprir as tarefas desse grupo, assim como cumpriu lá atrás sendo líder da maioria no governo Bolsonaro."

Governo Lula tem base frágil no congresso
Foto: Câmara dos Deputados / BBC News Brasil

Troca no ministério vai garantir votos?

O apoio do União Brasil em pautas do Palácio do Planalto tem oscilado.

A bancada não deu um voto sequer a favor do governo, por exemplo, quando a Câmara derrubou trechos de um decreto de Lula com regra para o setor de saneamento.

Já na votação do marco fiscal, que estabelece novas regras para o gasto público, a bancada do partido deu a maioria dos seus votos (50) para a aprovação.

O líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), afirmou que a expectativa é de que a troca de Daniela Carneiro por Celso Sabino possa, finalmente, fazer com que o União Brasil dê um apoio mais consistente ao governo.

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"Meu papel é arrumar os votos. Por isso, a reconstrução das bancadas precisa acontecer, e ela pode garantir isso", disse Guimarães à BBC News Brasil.

O parlamentar também elogiou o ministro e tentou minimizar o histórico de proximidade entre Sabino e Bolsonaro.

"O momento é outro. Não vamos ficar olhando para trás pelo retrovisor", afirmou. "É uma pessoa com quem me dou muito bem. É um moço de bom trato, comprometido com a política. Se Lula o indicar, estamos aqui para colaborar."

Para Queiroz, do Diap, a proximidade de Sabino com Elmar Nascimento e Arthur Lira deve garantir mais votos do partido ao governo.

"Acho que o governo só dá (o ministério a Sabino) se tiver um compromisso dos dois caciques nesse processo. Eles têm controle pleno da bancada", avalia.

O presidente nacional do União Brasil, deputado federal Luciano Bivar (PE), porém, se esquivou de garantir votos para o governo ao ser questionado se a ida de Celso Sabino ao Ministério do Turismo resolveria a falta de apoio dentro da legenda.

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"Isso não é um assunto discutido pela presidência do partido. Isso é um assunto que cabe à Presidência da República", disse à BBC News Brasil.

Segundo Bivar, as origens do seu partido explicam a dificuldade da legenda em entregar a quantidade de votos desejada pelo governo.

"Nosso partido nasceu da fusão do extinto Democratas e do extinto PL. Somos essencialmente liberais. Se há alguma discordância com relação à postura do governo, isso é normal", disse ainda.

Entre parlamentares petistas, há expectativa de que a troca no ministério garanta cerca de 40 votos ao governo na Câmara.

Os demais são vistos como caso perdido para o Planalto devido à forte oposição que fazem ao PT, caso dos deputados Kim Kataguiri (SP), Rosangela Moro (SP) e Mendonça Filho (PE).

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