O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), escreveu mensagens ao advogado e ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten após a descoberta do colar e brincos de diamantes presenteados pelo governo saudita à presidência. Em um dos textos, ele diz que "o pior é que está tudo documentado", com relação ao escândalo, conforme a coluna de Juliana Dal Piva, no UOL.
Segundo o site, houve um diálogo pelo Whatsapp entre os dois que mostra que, no dia 3 de março, às 19h36, Cid enviou uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo revelando o valor das peças de R$ 5 milhões, e que elas foram apreendidas no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, em 2021. A reportagem também falava do assessor do ex-ministro de Minas Bento Albuquerque que estava com as joias no aeroporto e que o Bolsonaro tinha tentado recuperar os itens antes de ir para os Estados Unidos, em 2022.
Ao receber a reportagem, Wajngarten escreveu ao militar: "Eu nunca vi tanta gente ignorante na minha vida". Não fica claro a quem ele se refere, mas Cid concorda dizendo: "Difícil mesmo. O pior é que está tudo documentado".
O advogado questiona como isso está documentado, e Cid envia diversas mensagens, que foram apagadas, e por isso não é possível dizer o que foi escrito.
Wajngarten e Cid não comentaram sobre o teor das mensagens.
A PF apura um esquema de desvio de presentes dados à Presidência e desviados para o patrimônio pessoal de Jair Bolsonaro.
Receita Federal
Também no dia 3 de março, Cid enviou um áudio dizendo que "O presidente só ficou sabendo no final do ano, quando o chefe da Receita [Federal] avisou que tinha um bem presenteado para ele que tava ali. Então foi só bem no final do ano que ele ficou sabendo. Não sei dizer a data. Tanto que, em 2022, ninguém tocou nisso aí. Por isso, que entrou para leilão porque ficou mais de um ano". Na época, o chefe da Receita Federal era Julio César Vieira Gomes.
Cid faz referência a um leilão da Receita Federal, de itens apreendidos por sonegação fiscal. Mas após o escândalo, a medida foi suspensa e o caso das joias passou a ser investigado.
O kit estava com o ex-assessor do então ministro Bento Albuquerque, Marcos André dos Santos Soeiro, que participou da comitiva no Oriente Médio, em 26 outubro de 2021.
Horas depois, Wajngarten encaminhou diversas perguntas para Cid sobre onde estaria o segundo pacote de joias que incluía o kit rosé da grife de luxo Chopard que entrou clandestinamente no Brasil. Ele perguntou onde estava o kit. Cid escreveu ao ex-secretário de comunicação: "Ele recebe centenas de presentes. Ele nem sabe o que ele recebeu nesses quatro anos". Wajngarten então pergunta: "Mas onde está o acervo dele neste momento?". "Não sei", responde Cid.
Wajngarten questiona: "Quem cuida?". Cid então é evasivo e fala de outro auxiliar de Bolsonaro, Marcelo Câmara. "Deve estar em algum depósito. Cel Câmara".
Irritado, Wajngarten escreve: "Não pode ser. Pergunte a ele aí e a Célio e ao Pedro". Célio Faria e Pedro Souza foram chefes de gabinete de Jair Bolsonaro na Presidência, Faria também chegou a ser ministro da Secretaria de Governo.
Cid encaminha uma foto do conjunto masculino e escreve que "não fala onde está o acervo".
Entrega para o TCU
Fábio Wajngarten passou a defender a entrega das joias para o TCU a partir do dia 7 de março, segundo as mensagens. Ao comentar uma reportagem que mencionava que o kit estava guardado em um galpão, Wajngarten escreve para Cid dizendo que eles deveriam disponibilizar o bem.
"Acho que tínhamos de disponibilizar o bem imediatamente através do advogado". Cid apoia: "Perfeito!".
No entanto, ele não mencionou que o kit tinha ido para os Estados Unidos com o presidente, e quase foi vendido por ele em Nova York, conforme a Polícia Federal descobriu na Operação Lucas 12:2.
No dia 9 de março, Wajngarten escreveu novamente a Cid dizendo que ele "tem que devolver imediatamente. É impressionante como ninguém pensa".
O advogado também foi intimado a depor na quinta-feira, 31, mas ficou em silêncio por atuar na defesa de Jair Bolsonaro.