O tenente-coronel Mauro Cid forneceu informações sobre todas as reuniões identificadas pela Polícia Federal (PF) nas quais foi discutido um plano de golpe de Estado. Durante depoimento, que durou mais de oito horas, o ex-ajudante de ordens da Presidência confirmou a realização de pelo menos cinco reuniões que envolveram diretamente Jair Bolsonaro (PL), membros de seu governo e militares. As informações são da jornalista Bela Megale, do jornal O Globo.
Segundo informações de integrantes da PF que estão a par das investigações, entre as reuniões golpistas confirmadas por Cid, está aquela em que o ex-assessor especial da Presidência, Filipe Martins, acompanhado pelo advogado Amauri Feres Saad, apresentou a Bolsonaro uma minuta contendo uma proposta de decreto de golpe de Estado.
O ex-ajudante de ordens da Presidência disse aos delegados que, após ajustes solicitados pelo próprio ex-presidente, o texto foi discutido novamente em outro encontro, desta vez entre Bolsonaro e os comandantes das Forças Armadas. Em depoimento anterior, o ex-ajudante de ordens afirmou ter conhecimento da reunião, mas negou ter participado dela.
Cid também forneceu detalhes sobre outro encontro conduzido pelo coronel do Exército Bernardo Romão Correia Neto, que, na época, era assistente do Comando Militar do Sul. A reunião ocorreu em 28 de dezembro de 2022, em Brasília, e contou com a presença de oficiais com formação nas forças especiais, conhecidos como 'Kids Pretos', além de assistentes de generais supostamente favoráveis ao golpe. A PF interceptou mensagens no celular de Cid que indicam que Correia Neto foi responsável por selecionar os participantes do encontro, cujo tema central foi o golpe.
O quarto encontro, no qual se discutiu um plano de golpe, conforme relatado por Cid, ocorreu em 12 de dezembro de 2022, em Brasília, com a presença do major Rafael Martins. Na ocasião, o major, Cid e outros militares trataram de assuntos relacionados à estratégia golpista. Conversas encontradas no celular do ex-ajudante de ordens indicam que, após a reunião, Martins solicitou a Cid o pagamento de R$ 100 mil para financiar a viagem de manifestantes a Brasília.
Cid também confirmou a realização da reunião entre Jair Bolsonaro e ministros em 5 de julho de 2022, na qual a PF identificou uma "dinâmica golpista". O vídeo desse encontro estava no computador do ex-ajudante de ordens, embora não tenha feito parte das revelações iniciais de seu acordo de delação.