O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), o tenente-coronel Mauro Cid usou seu direito legal e ficou 40 minutos em silêncio durante o depoimento ontem à Polícia Federal. Nem mesmo a troca de advogados de defesa mudou a estratégia de silêncio de Mauro Cid, que, no primeiro depoimento após a prisão, duas semanas atrás, também se calou.
Mauro Cid foi preso no dia 3 de maio sob suspeita de adulterar as carteiras de vacinação de sua família, de assessores e do então presidente da República e da filha ele. Ele estava sendo atendido por um advogado próximo da família Bolsonaro, Rodrigo Ronca. Em 10 de maio, Ronca foi substituído pelos advogados Bernardo Fenelon e Bruno Buonicore. Fenelon é um especialista em delação premiada. Já Buonicore foi assessor do ministro Gilmar Mendes, do STF.
Ficar em silêncio pode ser apenas o exercício do direito constitucional de um suspeito ou pode indicar algo mais: que o suspeito não quer antecipar à autoridade policial o que poderia esclarecer com uma delação premiada. Desde quando trocou de advogados, Mauro Cid tem preocupado os bolsonaristas, que temem que o militar faça um acordo de colaboração com a Justiça. “Ele exerceu um direito de defesa que é muito utilizado. Neste momento, fica muito difícil saber qual será sua estratégia no caso e se ela contempla um acordo de colaboração”, afirmou à coluna o jurista Pierpaolo Bottini, advogado criminalista e professor da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da USP.
Já Bolsonaro, que prestou depoimento também nesta semana, não ficou em silêncio. Ele negou ter conhecimento da fraude em seu cartão de vacina. É o tal do “não sabia de nada”. Mas é difícil acreditar que ele não soubesse que seus principais assessores fraudaram sua carteira de vacinação às vésperas de viajar para os Estados Unidos, assim como a de sua filha, que viajou com ele.
O problema para Bolsonaro é que, para muito além da questão das vacinas, o material encontrado no celular e na casa de Mauro Cid joga muitas sombras sobre a relação da ex-primeira-dama com dinheiro e sobre uma articulação para manter o ex-presidente no poder apesar de sua derrota.
Para Michelle Bolsonaro, as supostas transações financeiras realizadas por Mauro Cid, como depósitos em dinheiro, podem embarreirar suas pretensões eleitorais. A ex-primeira-dama cresce nas redes sociais e tem verdadeiros adoradores, mas, se for alvo constante de ataques, pode perder o brilho para encampar a corrida à prefeitura do Rio de Janeiro. Principalmente se esses ataques vierem do fogo amigo, uma vez que Flávio Bolsonaro também almeja o cargo.