Quando decretou a prisão de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal foi criticado por susposto abuso. Mas não é que, em operação de busca na residência do ex-ministro, a Polícia Federal encontrou a minuta que instituiria um golpe de Estado por parte de Jair Bolsonaro para anular o resultado das eleições. A informação foi divulgada nesta quinta-feira (12.jan.23) pela Folha de S.Paulo.
De férias nos Estado Unidos, Torres ainda não se apresentou à Polícia Federal, que ele comandou até o final do ano passado, quando Bolsonaro foi demitido pelos eleitores. Apesar de todas as evidências de que haveria um risco de manifestação violenta nos Três Poderes, ele, que havia acabado de assumir a Secretaria de Segurança do DF, viajou de férias.
“Lamento profundamente que sejam levantadas hipóteses absurdas de qualquer tipo de conivência minha com as barbáries que assistimos. Estou certo de que esse execrável episódio será totalmente esclarecido, e seus responsáveis exemplarmente punidos”, escreveu o ex-ministro em um comunicado.
No entanto, fica difícil Anderson Torres o que significa a minuta encontrada em sua casa por seus colegas da Polícia Federal (ele também é delegado da PF). O texto trata de uma intervenção do então presidente Bolsonaro sobre o Tribunal Superior Eleitoral, anulando o resultado das eleições.
O texto não tem assinatura de Bolsonaro. Mas é importante lembrar que o próprio Bolsonaro disse, em live para seus eleitores, que estudou à exaustão meios de reverter o resultado eleitoral. Pelo visto, Anderson Torres surgiu com uma saída "fora das quatro linhas da Constituição", como gosta de falar Bolsonaro.
O cerco contra os golpistas vai se apertando e muitos personagens do bolsonarismo, como o empresário Luciano Hang, dono da rede Havan, vão se afastando do "mito". Hang tem dito que não participou nem fomentou o ataque antidemocrático. De fato, seu nome não consta na lista divulgada pela AGU (Advocacia Geral da União), como aponta o Globo nesta tarde, com os nomes dos financiadores.
O que fica cada vez mais claro, seja com a pesquisa Datafolha publicada hoje, que aponta que a maioria absoluta dos brasileiros condena os atos golpistas e que metade do país (55%) responsabiliza Bolsonaro pela invasão dos Três Poderes, seja com as declarações de Lula de que forças de segurança do Palácio facilitaram a invasão, é que o ex-presidente vai enfrantar uma oposição muito mais dura fora do Alvorada do que sempre se queixou quando era o inquilino do Poder. E sem a prerrogativa do foro privilegiado.