Auxílio Brasil teve impacto pequeno no voto dos mais pobres

Os dados derrubam a aposta de quem dizia que o eleitorado pobre se jogaria nos braços do presidente por causa do Auxílio Brasil de R$ 600

1 set 2022 - 05h00

O presidente Jair Bolsonaro bem que tentou, mas não convenceu os pobres com o Auxílio Brasil. É certo que, de acordo com as pesquisas Ipec divulgadas pela TV Globo, Lula perdeu 9 pontos entre os eleitores que recebem até R$ 1 mil por mês, mas ainda lidera com folga, tendo 50% desse eleitorado. Com todos os benefícios do Auxílio Brasil, nessa faixa, Jair Bolsonaro tem o voto de 24% (no início do mês, antes da liberação do auxílio de R$ 600, tinha 19%). Lula lidera também entre quem tem renda entre um e dois salários mínimos (43 a 29, antes era 41 a 28). Vale dizer ainda que Lula tem 50% dos votos de quem estudou até o ensino fundamental.

Analisados com calma, esses dados derrubam a aposta de quem dizia que o eleitorado pobre se jogaria nos braços do presidente por causa do Auxílio Brasil de R$ 600. É até ultrajante a forma como muitos políticos e estrategistas tratam o eleitor pobre como um produto barato na prateleira. O eleitor pobre é pragmático. Ele tem de ser pragmático porque qualquer deslize em sua vida custa muito caro.

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Mãe e filha em casa de madeira
Mãe e filha em casa de madeira
Foto: iStock

Por certo, há algum espaço para a esperança nesse pragmatismo porque, na real, sem esperança não se vive. E o brasileiro é aquela pessoa que tenta ser feliz: só isso explica como 72% de nós estamos satisfeitos ou muito satisfeitos com a vida que levamos. O índice cai para 62% entre os que recebem até R$ 1 mil por mês, mas ainda assim é um dado impressionante.

Essa satisfação do brasileiro é um bom sinal para Bolsonaro. Mostra que o eleitorado, neste momento, não está no pique de grandes mudanças. Pode ser um efeito também da normalização de um governo catastrófico em diversos pontos. São tantos os problemas que nos acostumamos a eles.

Embora surfe nesse eleitorado mais pobre, Lula tem de parar um pouco de ficar olhando para trás. Ter sido um presidente melhor do que Bolsonaro, de acordo com a opinião pública (saiu do governo com mais de 80% de aprovação em 2010), não é garantia de que será melhor agora. No debate exibido na Band, poderia ter descido do salto para mostrar propostas. E para explicar como vai tirar o Brasil do Mapa da Fome, como vai gerar emprego. Como sabemos, o eleitor é pragmático. Quer saber o que o espera a partir de 2023.

Fonte: Tatiana Farah Tatiana Farah é jornalista de política há mais de 20 anos. É repórter da Agência Brasília Alta Frequência. Foi gerente de comunicação da Abraji, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Repórter do BuzzFeed News no Brasil de 2016 a 2020.  Responsável por levar os segredos do Wikileaks para O Globo, onde trabalhou por 11 anos. Passou pela Veja, Folha de S. Paulo e outras redações, além de assessorias de imprensa. As opiniões da colunista não representam a visão do Terra. 
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