Era para ser daquelas coisas protocolares, mas muito importantes. A diplomação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva quebrou o protocolo quando parte da plateia começou a saudação: “boa tarde, presidente Lula! Boa tarde, presidente Lula!”
A frase traz muito significado. Era assim que todos os dias os apoiadores do petista, que acamparam em revezamento durante os 580 dias de sua prisão em Curitiba, se manifestavam: Bom dia, boa tarde, boa noite, presidente Lula. A intenção era mostrar que ele não estava sozinho. Agora, Lula convidou representantes dessa vigília para a cerimônia do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Três anos depois dessa prisão, o petista é diplomado para exercer a Presidência pela terceira vez. A diplomação marca o fim do processo eleitoral e a confirmação do resultado das urnas. Ao receber o diploma, Lula não mostrava a felicidade contagiante de seu vice, Geraldo Alckmin. Estava sério demais, talvez pensando no que esse momento traz para sua história pessoal, mas também no peso dos anos que estão por vir.
Ao discursar, o eleito não se aguentou. Caiu em lágrimas. “Quem passou o que eu passei e está aqui agora é a certeza de que Deus existe. O povo brasileiro é maior do que qualquer pessoa que tentar o arbítrio neste país”, disse o presidente diplomado.
Lula elogiou o papel de Alexandre de Moraes e ressaltou a pressão sofrida por trabalhadores para que votassem contra ele, sob risco de perder os empregos e os benefícios. Na plateia, líderes das principais centrais sindicais assentiam com as cabeças. Fizeram dezenas de denúncias ao TSE sobre essa coação em todo o país.
Lula chamou os problemas deixados pelo governo Bolsonaro como “legado perverso”. Denunciar esse legado, escreveu a Folha de S. Paulo, teve a intenção de produzir vacina contra as críticas que virão. Na GloboNews, os apresentadores, minutos antes da diplomação, já cobravam os nomes da equipe econômica porque o mercado está nervoso. A imprensa, que em maioria repudiou desmandos de Bolsonaro, já dá seu recado de que não dará sossego para Lula.
Em entrevista hoje, o senador Tasso Jereissati (PSDB), que se despede da política oficial este ano, disse que, se for mal na economia, o governo Lula pavimenta o retorno de Jair Bolsonaro. O discurso de Bolsonaro a seus eleitores, para além de um tom que apoia o golpismo das mobilizações diante dos quartéis, pede que seus eleitores continuem acesos para uma vitória (se não agora, em 2026).
É sob essa tensão, com números econômicos decepcionantes e recursos escassos, que o presidente Lula volta para seu terceiro mandato. Não será uma tarefa fácil sobretudo com um país ainda dividido.
Mas, como disse Lula, esse diploma não é apenas dele, mas de “uma parcela significativa do povo, que reconquistou o direito de viver em democracia neste país”.
O sentimento de vitória da democracia foi marcado pelo discurso de Alexandre de Moraes, que atacou a campanha bolsonarista sem citar nomes, mas avisou que os autores dos ataques antidemocráticos e a campanha de desinformação serão "integralmente responsabilizados".
O ano novo promete.