Bolsonaro chora de barriga cheia

No Sete de Setembro, o presidente ocupou o tempo todo o noticiário, de uma maneira desigual em relação aos outros candidatos

8 set 2022 - 12h49
(atualizado às 12h52)

O presidente Jair Bolsonaro reclama da imprensa, sempre na narrativa de se colocar como uma vítima dos poderes constituídos (dos quais ele faz parte) e dos meios de comunicação. Mas não é bem assim. No Sete de Setembro, ele ocupou o tempo todo o noticiário, de uma maneira desigual em relação aos outros candidatos. 

Até parece que a imprensa, a Justiça e os adversários não sabiam o que seria feito pelo presidente nos 200 anos de Independência. Ele mesmo avisou que seria um ato eleitoral, uma demonstração de força. Mas o que se seguiu foi uma imprensa atônita, alertando para o uso político dos atos que deveriam ser cívicos, mas mostrando a campanha eleitoral do presidente.

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No fim do dia, os candidatos que ficaram pianinho durante todo o dia foram às redes sociais reclamar, anunciar processos judiciais e chorar pelo leite derramado. Já era tarde.

Entre os candidatos, quem mais chamou a atenção foi Ciro Gomes, na GloboNews, dizendo que estava em Minas e que tinha medo de um golpe. Com os líderes de seu partido, ele contou que estava em Ouro Preto para homenagear Tiradentes e para se preparar para uma ação contra um golpe. No início da noite, comemorou que não houve golpe. Se disse aliviado.

Repito a palavra golpe porque não me lembro de Ciro ter feito esse alerta à população. Se acreditava mesmo que o país estava em risco, deveria ter agido e não se recolhido em Minas. Mas, como diz Caetano, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”.

E, se tem alguém que sabe exatamente o que é, esse alguém é Bolsonaro. Com seu discurso machista, antiquado, de um patriotismo e de uma religiosidade enviesados, ele arrastou para as ruas dezenas de milhares de apoiadores. Não são os milhões contabilizados pelo clã Bolsonaro, mas foi muita gente mesmo.

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Você há de dizer que ele só pregou para convertidos. É verdade. Mas não era esse o ponto. A questão era mostrar fôlego e apelo popular para dar gás às últimas semanas do primeiro turno. E, nisso, ponto para ele.

Foto: Poder360
Fonte: Tatiana Farah Tatiana Farah é jornalista de política há mais de 20 anos. É repórter da Agência Brasília Alta Frequência. Foi gerente de comunicação da Abraji, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Repórter do BuzzFeed News no Brasil de 2016 a 2020.  Responsável por levar os segredos do Wikileaks para O Globo, onde trabalhou por 11 anos. Passou pela Veja, Folha de S. Paulo e outras redações, além de assessorias de imprensa. As opiniões da colunista não representam a visão do Terra. 
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