O presidente Jair Bolsonaro reclama da imprensa, sempre na narrativa de se colocar como uma vítima dos poderes constituídos (dos quais ele faz parte) e dos meios de comunicação. Mas não é bem assim. No Sete de Setembro, ele ocupou o tempo todo o noticiário, de uma maneira desigual em relação aos outros candidatos.
Até parece que a imprensa, a Justiça e os adversários não sabiam o que seria feito pelo presidente nos 200 anos de Independência. Ele mesmo avisou que seria um ato eleitoral, uma demonstração de força. Mas o que se seguiu foi uma imprensa atônita, alertando para o uso político dos atos que deveriam ser cívicos, mas mostrando a campanha eleitoral do presidente.
No fim do dia, os candidatos que ficaram pianinho durante todo o dia foram às redes sociais reclamar, anunciar processos judiciais e chorar pelo leite derramado. Já era tarde.
Entre os candidatos, quem mais chamou a atenção foi Ciro Gomes, na GloboNews, dizendo que estava em Minas e que tinha medo de um golpe. Com os líderes de seu partido, ele contou que estava em Ouro Preto para homenagear Tiradentes e para se preparar para uma ação contra um golpe. No início da noite, comemorou que não houve golpe. Se disse aliviado.
Repito a palavra golpe porque não me lembro de Ciro ter feito esse alerta à população. Se acreditava mesmo que o país estava em risco, deveria ter agido e não se recolhido em Minas. Mas, como diz Caetano, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”.
E, se tem alguém que sabe exatamente o que é, esse alguém é Bolsonaro. Com seu discurso machista, antiquado, de um patriotismo e de uma religiosidade enviesados, ele arrastou para as ruas dezenas de milhares de apoiadores. Não são os milhões contabilizados pelo clã Bolsonaro, mas foi muita gente mesmo.
Você há de dizer que ele só pregou para convertidos. É verdade. Mas não era esse o ponto. A questão era mostrar fôlego e apelo popular para dar gás às últimas semanas do primeiro turno. E, nisso, ponto para ele.