Teve um forte aparato a segurança do entorno da Polícia Federal, em Brasília, onde Jair Bolsonaro (PL) prestou depoimento sobre os milhões em joias recebidos do governo da Arábia Saudita desde 2019, quando começava sua jornada de presidente da República. Obrigado pelo Tribunal de Contas da União, o ex-capitão já entregou três caixas de joias, que incluem relógios e abotoaduras.
É o primeiro depoimento de Bolsonaro em uma série de denúncias que marcaram o fim de seu governo. O aparato de segurança, no entanto, apenas mostrou o tamanho da solidão do ex-presidente agora que não tem mais o cargo. Não havia torcida para esperá-lo. Aquela galera toda que acampou nos QGs do Brasil parece tê-lo esquecido.
É a solidão de quem perdeu a caneta e que tem muitas satisfações ainda para dar. Uma delas é a resposta de seu partido ao pedido de inelegibilidade que corre no Tribunal Superior Eleitoral. Segundo o Datafolha, 51% dos brasileiros defendem que ele fique inelegível por ter contestado as urnas.
O depoimento de hoje à PF abre uma extensa lista de problemas que o ex-presidente deve enfrentar na Justiça e no acerto de contas com o eleitorado. É curioso apenas ver que o caso das joias rendeu ações imediatas da PF. Já a apuração sobre a responsabilidade do governo na pandemia de Covid não passou de retórica dos discursos inflamados dos opositores.
É só uma amostra de como, no Brasil, as questões de patrimônio superam a defesa da vida.
Lá como cá
Virou meme nesta quarta-feira um tuíte antigo de Eduardo Bolsonaro em que ele afirma: “Acontece nos Estados Unidos, acontece no Brasil.” O depoimento de Bolsonaro é realizado um dia depois do primeiro depoimento de Donald Trump à Justiça americana. Só que lá nos Estados Unidos ainda teve uma rodinha de alguns gatos pingados defendendo o ex-presidente. No Brasil, nem isso. O ativismo bolsonarista, por ora, voltou à origem: o sofá (ou a cadeira gamer) de quem passa horas diante do computador.