“Não perca a tua fé, acredite em você, um escolhido do Senhor”, canta o violeiro, ao lado de Jair Bolsonaro, sentado à mesa, com uma camiseta do Flamengo. O show é do cantor, mas a câmera mira no ex-presidente, que, mais uma vez, vai às lágrimas. A cena foi filmada para ir às redes do ex-capitão.
Mais uma vez, Bolsonaro faz questão de expor seu choro, seu lamento. Acusado de ser desumano durante todo o seu mandato, o ex-presidente já juntou um rio de lágrimas desde que perdeu as eleições, em outubro do ano passado.
O problema é que nenhuma lágrima de Bolsonaro filmada com zoom até hoje foi para outra pessoa que não ele mesmo. Se queria parecer demasiado humano, seria bom que o ex-presidente chorasse por causa de alguém, dos 600 mil mortos na pandemia sob seu governo, pelos índios dizimados em Roraima; enfim, os motivos para chorar são muitos.
Mais de um milhão e meio de fãs curtiram o vídeo de choro de Bolsonaro, é fato. As pessoas se comovem quando seu herói chora. Até mesmo nos filmes de roteiro mais tacanho há sempre esse impacto.
Mas não é com lágrimas de autocomiseração e ressentimento que Bolsonaro conseguirá liderar a oposição.
Na política, a estratégia de vitimização nunca funcionou. É que, para o bolsonarismo, as conquistas sociais e os direitos humanos não são vistos como frutos de luta, mas como ressonância do “mimimi”. Aí está o equívoco, que ressoa nos vídeos de choro do ex-presidente.
Já se passaram quatro meses da derrota. É hora de enfrentar as consequências. A crítica de Carla Zambelli, quem diria, é bastante pertinente. Ao comandante não é permitido abandonar o posto.
No Congresso, a oposição já mostrou que agirá muito mais com a cabeça do que com o fígado. Em São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas deixou claro que não será um Bolsonaro 2.0 e suas declarações estão longe de ser uma oposição a Lula. Na Assembleia Legislativa, o PL faz acordo com o PT para liderar a Casa. E o presidente do partido, Valdemar da Costa Neto, já combinou sair de braços dados com Michelle Bolsonaro para lançá-la nacionalmente.
Não existe vácuo no poder.