Nas ruas de São Paulo e de outras capitais, incluindo Brasília, o panelaço começou às 20h30. Era a senha para a entrevista de Jair Bolsonaro no Jornal Nacional. O presidente estava tenso, mas, mesmo com boa parte dos eleitores achando que ele deixaria o estúdio a qualquer momento, o candidato se segurou até o final dos 40 minutos. E ainda disse que gostaria de ficar horas ali, com William Bonner e Renata Vasconcellos.
Não é verdade. Foi uma pilhéria. Quem, afinal, gostaria de ser colocado contra as cordas no ringue da sabatina o tempo todo? Foi exatamente o que aconteceu: Bolsonaro ficou na defensiva e sequer conseguiu falar de seu principal adversário, Luiz Inácio Lula da Silva.
O presidente poderia ter aproveitado a entrevista para se desculpar por ter imitado pessoas com falta de ar no auge da pandemia. Mas preferiu dizer que a culpa pelas 685 mil mortes por Covid foi da imprensa, que criticou o tratamento precoce. Sim, aquele que tem ineficácia comprovada.
Logo na primeira pergunta, disse que William Bonner estava divulgando fake news. O telespectador sabe a verdade. Bolsonaro xingou, sim, ministro do STF. Ele mesmo teve de admitir, em seguida, dizendo algo como: é que você disse ministros e eu xinguei só um.
Algumas respostas estapafúrdias, como a de que suas manifestações de rua são democráticas porque não deixam uma lata de lixo virada, não convencem nem mesmo seus eleitores.
Dá para perceber que, em determinado momento, Bonner e Vasconcellos parecem se cansar de rebater os argumentos do presidente. Ele diz que não teve corrupção em seu governo, mas deixou claro que não põe a mão no fogo pelo ex-ministro da Educação. Não importa. Sua mão já estava queimada quando ele disse isso, meses atrás, antes de o ministro cair em por uma denúncia de um esquema de intermediação de verbas por pastores que nada tinham a ver com o ministério.
Também foi risível o presidente elencar seus ministros como nomes de excelência. O astronauta, o antiambientalista do Meio Ambiente. E os sucessivos ministros da Saúde e da Educação, que foram caindo como um castelo de cartas?
O grande problema para Bolsonaro é que todas as narrativas que ele despejou na sabatina não agregam novos eleitores a ele, não convencem. Já o lado positivo é que ele falou sem gritar, não deu o esperado chilique e deixou seu eleitor feliz.
Engana-se quem pensa que a entrevista com Lula será menos tensa. O petista chegou a cronometrar quantas horas o Jornal Nacional dedicou a falar da Lava Jato e da investigação contra ele. Lula dizia esperar um pedido de desculpas por parte da Rede Globo quando o STF anulou as sentenças. Talvez decida esquentar mais ainda o tempo e cobrar isso ao vivo. Será?