Ora, ora, e não é que o ex-presidente Jair Bolsonaro pode fazer palestras pagas nos Estados Unidos? Sim, pode receber por palestras como fez seu arquiinimigo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando deixou o Palácio. Não há nada de ilegal em ganhar dinheiro rodando o mundo para falar sobre sua experiência como presidente, mas Bolsonaro e sua turma criminalizaram o petista por isso. Redonda, a Terra dá voltas.
Bolsonaro pretende esticar sua estada nos EUA e, segundo a Folha de S. Paulo, foi orientado a cumprir um roteiro de palestras para custear sua permanência. O ex-presidente tem dinheiro para bancar a viagem. Uma lista de palestras, no entanto, o manteria minimamente em evidência, mas a uma distância segura da Justiça e dos efeitos da tentativa de golpe contra o governo e as instituições democráticas.
Os ataques aos Três Poderes no dia 8 de janeiro miraram em Lula, mas acertaram Bolsonaro. O petista saiu fortalecido, conseguindo reunir gregos e troianos em torno da defesa da democracia. Já Bolsonaro acabou com um carimbo de golpista frustrado. Tudo piorou com o encontro da minuta do golpe nos papéis da casa de seu ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, que hoje está preso. O silêncio de Torres durante o depoimento aos investigadores não foi um bom sinal para Bolsonaro. Ele queria que o ex-auxiliar assumisse o BO e isentasse o gabinete presidencial.
De acordo com o Globo, nem o PL quer que Bolsonaro volte tão cedo. O medo é que, depois desses episódios, Bolsonaro fique ainda mais perto de se tornar inelegível. Voltar logo para o país, com o clima de fritura em Brasília, poderia solapar qualquer esperança de Bolsonaro voltar às urnas eletrônicas em 2026.
O eleitorado de Bolsonaro rachou. Uma boa parte entendeu que a vida segue e que é preciso enfrentar os fatos. Outra ala se ressentiu de ter sido deixada para trás, pedindo uma intervenção, enquanto o líder embarcava para a Flórida. A parte mais barulhenta dos eleitores é esta que agora “acampou” à força na prisão.
Como não existe vácuo no poder, outros nomes vão crescendo na direita e extrema-direita, como o de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo. Os governadores Romeu Zema, de Minas, e Ratinho Júnior, do Paraná, também vão se mexendo. Bolsonaro que se cuide.