O presidente Jair Bolsonaro (PL) evitou o enfrentamento com Lula (PT) no debate da Globo e empurrou para outros candidatos os ataques ao ex-presidente petista. Mas o maior embate entre eles ocorreu de forma lateral, com os seguidos direitos de resposta que esticaram o programa e o tornaram ainda mais exaustivo.
Bolsonaro tinha a seu lado Padre Kelmon (PTB), chamado de “cabo eleitoral” por Soraya Thronicke (UB), que o definiu como um “padre de festa junina”. Lula não teve paciência com o candidato, disse que ele estava fantasiado de padre e era laranja. Para Renata Lo Prete, do Jornal da Globo, negou que tenha perdido as estribeiras: “Eu não perdi as estribeiras, era importante dizer alguma coisa desse cidadão.”
Ao final, Padre Kelmon se vitimizou e disse que era assim, com ofensas, que eles (Lula) tratam os religiosos. Ou seja, o petista caiu na armadilha do candidato do PTB e pode ter ganhado ainda mais antipatia do eleitor religioso. Sua sorte, no entanto, é que Kelmon, de uma remota igreja do Peru, pode não ser identificado como representante legítimo dos evangélicos.
Com Ciro Gomes (PDT) e Felipe D’Ávila (Novo) batendo em Lula sem dó, Bolsonaro deve ter pensado que faria uma dobradinha com Simone Tebet (MDB). Quis empurrar para ela a afirmação, jamais comprovada pela polícia e pela Justiça, de que Lula teria ligação com a morte de Celso Daniel.
Tebet mostrou que não está na política para servir de escada para ninguém. Chegou a dizer que Bolsonaro não perguntava diretamente a Lula por covardia. Ainda assim, Bolsonaro seguiu sua estratégia de não perguntar nada ao petista, sempre terceirizando os ataques.
Com Lula no centro do embate, o presidente ganhou fôlego e mostrou mais tranquilidade. Poderia-se dizer que saiu ileso do debate, tendo em vista que sua semana foi cheia de notícias negativas, como a investigação dos gastos de seu gabinete e o tiro no pé que foi o relatório sobre as urnas eletrônicas chamado de mentiroso pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Mais uma vez, os candidatos atenderam muito mais a suas torcidas do que ganharam novos eleitores. Todas as pesquisas indicam que o voto do brasileiro já está definido. Mas, com a exaustão desse debate e de longos meses de brigas entre políticos e eleitores, talvez uma parte dos eleitores desista de votar. E é esse o temor maior de Lula, que espera encerrar a eleição no primeiro turno.