Viralizou nesta semana nas redes sociais o vídeo de artistas cantando um vira-vira-voto a favor de Lula. Mas, longe dos holofotes desse vídeo, é um jurista que chama a atenção na corrida eleitoral: Miguel Reale Júnior.
Ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso e tucano de raiz, Reale foi um dos artífices do processo de impeachment de Dilma Rousseff em 2016. Ele anunciou apoio a Lula no primeiro turno. “Precisamos resolver isso no primeiro turno, para tirar o Brasil de sobressaltos.”
Na outra ponta da disputa, o presidente Jair Bolsonaro está empacado. Não colheu os frutos esperados com o aumento do Auxílio Brasil e a queda no preço dos combustíveis. O brasileiro, esse pândego, ainda brinca com o “novo indexador” dos preços da gasolina e do diesel: as pesquisas de intenção de voto.
As viagens do presidente também não trouxeram o efeito esperado. Se em Nova York Bolsonaro teve de enfrentar as projeções que o ridicularizaram na fachada do Empire State Building, em Londres foram seus próprios seguidores que o envergonharam. Gritaram para a BBC que ela não era bem-vinda em seu próprio país e mandaram londrinos descontentes se mudarem para a Venezuela. A resposta de Bolsonaro foi retomar o discurso de não aceitação das eleições, ao dizer que, se não for eleito no primeiro turno, é porque há problemas no processo eleitoral.
É nesse contexto que o ex-presidente Lula endossa uma campanha pela vitória no primeiro turno. Ele nunca gostou do clima de “já ganhou” porque, se ele não vem com a vitória, traz um desânimo difícil de derrubar no segundo turno. Em 2006, quando estava prestes a vencer o pleito contra Geraldo Alckmin, seu atual vice, o clima de “já ganhou” não deu o sprint necessário para a vitória. Embora tenha entrado à frente de Alckmin no segundo turno daquela eleição, o petismo reagiu, nos primeiros momentos, como se tivesse sofrido uma derrota. E olha que, naquele tempo, era bem mais fácil vencer do que hoje: Lula tinha a máquina do governo, a economia ia bem, a aprovação ia a mil. Tanto é que ganhou.
Desta vez, Lula vai para o tudo ou nada. Até porque o nada, neste caso, é o segundo turno. A ideia é evitar que Bolsonaro venha mais forte no segundo turno. Não é só medo de golpe ou de golpes baixos, como têm apregoado os petistas. É medo também do crescimento do adversário, que tem a máquina do Estado e um saco de bondades à mão para tentar conquistar os eleitores.
Em tempo:
Quanto mais o PT fala em voto útil -- a verdadeira intenção do vídeo do “vira-voto” -- mais estridente fica o tom de Ciro Gomes. Um coração magoado não conhece comedimento. É a lógica que orienta os que não têm nada a perder. Embora Ciro corra o risco de perder muito de seu patrimônio político saindo de uma campanha menor do que entrou.