Cuidado com as cascas de banana colocadas no caminho dos eleitores

É preciso estar atento e atenta aos candidatos, aos partidos, à história e aos feitos reais de cada um deles

17 ago 2022 - 18h16
(atualizado em 18/8/2022 às 05h00)

Esqueça a Terra plana, a cloroquina, a negação da ciência. Ou não. Mas o importante agora é ficar de olho nas eleições e nas cascas de banana que são colocadas todos os dias no caminho dos eleitores. A primeira delas é a tal da polarização. 

Os que não são talvez tão velhos como eu podem não se lembrar das campanhas anteriores: mas a polarização sempre existiu. E, além disso, as eleições em dois turnos acabam por criá-la, ainda que ela não tenha marcado o primeiro turno de votação. E "está tudo bem". Quer dizer, agora não está tudo bem. Mas a crise não se deve a uma polarização. Se deve à radicalização. 

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Quando um dos discursos radicaliza o debate, esse radicalismo se espraia envolvendo candidatos, partidos, formadores de opinião e, é claro, você, sua tia e os primos do zap. 

Esse radicalismo não ajuda a maioria, mas facilita a vida dos que apostam nessa vertente do debate político. O radicalismo fideliza o cliente. O cliente, no caso, somos nós. Fora isso, há uma gama de candidatos que estão aí para você escolher. Não se pode pensar em votar para ganhar ou em perder o voto porque o seu candidato não ganhou. Só se perde o voto quando ele é depositado em quem traiu a sua confiança. Se o torcedor só pudesse torcer para o eventual campeão, como ficariam o América, a Lusa (não vou citar outros para não polemizar com futebol)? Pois é.

A política não pode ser movida apenas por paixões, como acontece na torcida dos estádios. Ela é muito maior do que isso. Ela vai reger sua vida por determinado tempo por mais que você se sinta descrente e afastado da política. 

É preciso estar atento e atenta aos candidatos, aos partidos, à história e aos feitos reais de cada um deles. Os tempos hoje são de desinformação. Não se pode comprar uma suposta informação ou notícia apenas porque ela agrada o seu pensamento, porque lhe dá o alívio do viés de confirmação. Como diz um filósofo dinamarquês, “é preciso duvidar de tudo”. 

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Jovens protestam em São Paulo
Jovens protestam em São Paulo
Foto: Reuters

A principal ferramenta que você tem nessa eleição é o seu questionamento. Por que tal candidato está dizendo isso? Por que recebi essa mensagem no meu feed? Do que é que essas pessoas estão falando? Seja questionador, duvide e pesquise. Essas são as armas que nem precisamos de licença para carregar. Quer dizer, nem precisamos de licença quando vivemos num regime democrático, o que, a duras penas, ainda temos.

Costumo pensar que os jovens de hoje já nasceram com o chip do questionamento, que alguns chamam de problematização. Não se pode deixar esse chip desligado apenas porque se tem preferência por um ou outro candidato. 

Outra casca de banana é o desvio do debate. Você quer saber o que vai acontecer com a educação, com o Enem e o Fies, mas eles empurram o debate para questões como aborto (neste caso, discutido como preceito religioso e não como problema de saúde pública), igreja, religiões (as proibidas e as permitidas) e família (como se cada um não tivesse a sua, cheia de defeitos e, ainda assim, toda sua). Quando você percebe, deixou de falar de emprego e educação para ficar discutindo sobre temas que não são nem deveriam ser da alçada de um governante ou parlamentar.

Conheça melhor os candidatos, assista ao programa eleitoral mesmo que seja para ver que o mundo que muitos deles mostram na TV é pura fantasia. Leia os programas de governo dos candidatos nacionais e de seu estado no site do TSE. Veja o patrimônio deles, seus gastos na campanha. Acompanhe de perto o seu candidato. Não seja um fã. Seja um fiscal. E faça tudo em paz e com paz.

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Fonte: Tatiana Farah Tatiana Farah é jornalista de política há mais de 20 anos. É repórter da Agência Brasília Alta Frequência. Foi gerente de comunicação da Abraji, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Repórter do BuzzFeed News no Brasil de 2016 a 2020.  Responsável por levar os segredos do Wikileaks para O Globo, onde trabalhou por 11 anos. Passou pela Veja, Folha de S. Paulo e outras redações, além de assessorias de imprensa. As opiniões da colunista não representam a visão do Terra. 
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