Como uma novela, a política se desenrola no Brasil com mocinhos, vilões e incidentes que mudam todo o rumo da prosa. Com oito anos de Presidência e mais de 40 de política, o presidente o Lula sabe como ninguém como escrever esse roteiro. O ex-presidente Jair Bolsonaro está longe e, um mês depois da tentativa de golpe, é preciso reforçar a imagem de um personagem menor e alçá-lo a protagonista.
Se o país não crescer, a inflação não cair e a economia não melhorar, o petista já tem um culpado. É Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central. A estratégia é desgastar Campos Neto ao máximo, atacando a taxa de juros (hoje em 13,75%), e enfraquecer seu mandato, que vai até 2024. Lula disse esperar “esse cidadão Campos Neto terminar o mandato dele para a gente fazer uma avaliação do que significou o Banco Central independente”.
Interlocutores do presidente afirmaram ao Terra que, a despeito dos conselhos para que deixe de criticar diretamente Campos Neto, Lula vai manter o nó apertado no pescoço no Banco Central. O petista esta semana chamou a taxa Selic de 13,75% de “vergonha”. Na mesma linha, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que o Banco Central é “a última trincheira do bolsonarismo no poder”.
Apoiador de Lula, o deputado Guilherme Boulos, líder do PSOL na Câmara, chamou Campos Neto de “infiltrado” de Bolsonaro, que promove “boicote” à economia. O PSOL protocolou na Câmara um projeto de lei para rever a autonomia do Banco Central, dando corda para a fala de Lula de que, ao final do mandato de Campos Neto, o país deveria rever a autonomia, instituída por lei em 2021. Campos Neto rebate: “quanto mais independente, mais eficaz”.
Os petistas apontam que a taxa de juros a 13,75% ao ano “impede investimentos, geração de empregos e elevação do salário mínimo”. Tudo o que o presidente Lula prometeu entregar ao Brasil em sua campanha eleitoral. Pode ser que a pressão do presidente não diminua a taxa Selic e muito menos leve Campos Neto a pedir exoneração. Mas a narrativa já está sendo construída a machadadas.