A invasão aos Três Poderes neste domingo, em Brasília, deixou um rastro de destruição e violência. Mas, diferentemente do que os bolsonaristas golpistas queriam, o golpe não veio. Foi um tiro no pé. A afronta à democracia abriu um caminho para a conciliação nacional em torno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No domingo, os bolsonaristas de quartel que estavam alojados diante do Comando Militar do Sudeste, em São Paulo, ensaiaram uma "visita" ao Palácio dos Bandeirantes para pedir apoio ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Seria uma viagem perdida. No encontro desta segunda com Lula, no Palácio do Planalto, Tarcísio se solidarizou com o presidente e defendeu a pacificação. Lembrou que a democracia do país foi construída "a duras penas".
O radicalismo e a sanha golpista de quem invadiu os Três Poderes, de quem os financiou e alimentou, acabaram empurrando Tarcísio, herdeiro natural de Jair Bolsonaro (PL), para o colo do governo federal. Outro bolsonarista de grosso calibre, o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), começou o dia dizendo que não participaria da reunião. Mas estava lá, à mesa com os demais governadores, repudiando em conjunto o estrago causado pelos invasores dos Três Poderes, largamente chamados de terroristas pelo meio político, jurídico e pela imprensa.
Ao determinar o afastamento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes mostrou coesão com o Planalto, que havia decretado intervenção federal no estado. A mesma coesão foi sentida na manifestações dos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados. Agora, se unem a eles os governadores de ponta a ponta.
A cena desta noite, em que o presidente desce a rampa com os governadores, os ministros do Supremo, os presidentes da Câmara e do Senado, além de ministros, é uma lição para qualquer golpista agarrado a uma bandeira diante do quartel. Assim como as manifestações PACÍFICAS por democracia nos estados e a dezenas de manifestações públicas de repúdio aos atos criminosos do domingo.
Alguns anos atrás, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho 02 do ex-presidente, anunciou que bastariam "um cabo e dois soldados" para fechar o Supremo. Ontem ele descobriu que nem milhares de bolsonaristas, muitos deles armados e outros roubando armas de uso federal, seriam capazes de fechar nada, nem o Supremo, nem o Congresso, nem o Planalto.
Podem promover bandalheira, principalmente com a conivência silenciosa e às vezes escancarada de forças de segurança, quebrando portas, móveis e vidros, defecando no chão, arrancando símbolos nacionais e religiosos (não eram patriotas e cristãos?), destruindo obras de arte e agredindo profissionais de imprensa. Mas, no dia seguinte, Brasília e o Brasil acordam e vão trabalhar.