Se a eleição paulista dependesse do debate desta quinta-feira na Globo, Fernando Haddad (PT) sairia do estúdio com os bolsos cheios de votos. Enfrentou Tarcísio de Freitas (Republicanos) em todos os blocos e deixou o adversário contra as cordas no ringue em temas como falta de oxigênio em Manaus, tratamento para dependentes químicos, vacinação infantil, privatização da Sabesp, habitação, merenda escolar e, por fim, tiroteio em Paraisópolis.
Novato na política, Tarcísio fez um movimento muito arriscado logo no primeiro bloco, elencando como fake news tudo o que tem sido usado contra ele nas últimas semanas. Foi a deixa para que Haddad reforçasse cada uma das acusações e já avisasse o adversário de que, em algum momento, ele falaria sobre a denúncia de que um auxiliar de segurança do bolsonarista pediu para que um cinegrafista apagasse a filmagem do tiroteio em Paraisópolis, o que pode ser considerado obstrução da investigação.
Anunciar que falaria do episódio e deixar o tema para o último bloco foi um elemento de pressão sobre Tarcísio, que não sabia em que momento teria de se defender. Mas o problema maior do bolsonarista foi que sua resposta, quando perguntado se defendia a transparência para todos ou só para os outros, foi muito pobre. Por duas vezes Tarcísio contou como vantagem que sua equipe teve o cuidado de ajudar os jornalistas a saírem do ambiente perigoso, o que não é. E, para piorar, ele justificou a atitude de seu auxiliar pelo nervosismo da situação. Um auxiliar treinado, uma vez que é agente licenciado da Abin (Agência Brasileitra de Inteligência). Por que um segurança com esse currículo pede a um cinegrafista que apague uma filmagem que pode servir como prova? Não seria muito amadorismo?
Enquanto Haddad chegou ao debate cheio de ataques novos, como o caso Roberto Jefferson e o tiroteio de Paraisópolis, Tarcísio usou apenas munição vencida: "pior prefeito de São Paulo", obras inacabadas do governo petista e uma tentativa frustrada de colocar no debate a figura do ex-deputado Jilmar Tatto, que foi secretário de Transportes da prefeitura petista e sobre quem pesaram acusações na gestão paulistana. Haddad defendeu o petista e lembrou que ele foi responsável pela implantação do Bilhete Único, um item querido por São Paulo a ponto de o próprio Tarcísio abraçar a ideia. O assunto morreu ali.
Haddad usou toda sua expertise em debates contra um adversário novato, que falava sobre cidades e obras como quem decorou uma lista telefônica. Mas seu maior adversário não é Tarcísio de Freitas. É o antipetismo paulista, sobretudo do interior do estado. Até agora, Haddad não superou isso.