Se fosse uma luta de boxe, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sairia do ringue da Globo com uma vitória por pontos. Não teve nocaute e a luta nem foi bonita. Em alguns momentos, parecia que o debate não terminaria nunca, com Lula e o presidente Jair Bolsonaro (PL) naquela coisa de "fala aí" e "fala você". Velho de guerra em debates eleitorais, Lula sempre disse que o eleitor brasileiro detesta brigas e, assim, adotava uma posição cordata. Ontem, foi mais impaciente e acusou Bolsonaro do que era acusado o tempo todo: de ser mentiroso e corrupto.
Esse tom pode até dar o tempero em alguns momentos, é a pimenta do debate. Mas não dá para comer um prato inteiro de pimenta. Principalmente porque a discussão entre os candidatos não saía do lugar. Bolsonaro gastou quase todo o primeiro bloco querendo que Lula dissesse o que ele queria. No bloco seguinte, foi Lula que ficou fustigando Bolsonaro, mas sem evoluir nos temas.
Vale dizer que, para Bolsonaro, só a vitória no debate interessava. Ele saiu em segundo lugar no primeiro turno e está atrás nas pesquisas, ainda que por poucos pontos e em alguns institutos dentro da margem de erro. Para Lula, um 0x0 comprometeria menos. Então, nesse ponto, perde Bolsonaro por ter usado um linguajar que só é considerado corajoso pelo seu próprio time. Para o eleitor indeciso, seu estilo soa grosseiro e desrespeitoso. Uma pesquisa qualitativa da AtlasPoítico, divulgada ainda esta noite, mostrou que 51,5% dos eleitores indecisos consideraram Lula vitorioso, contra 33,7% de Bolsonaro. E 14,9% não souberam responder quem ganhou o debate.
É. certo dizer que o tão aguardado debate da Globo frustrou os que esperavam um grande espetáculo. Os dois candidatos jorgaram na retranca. Bolsonaro foi o que mais pregou para convertidos, usando palavras pesadas como "ladrão" e "mentiroso" dezenas de vezes, apelando para o fantasma do comunismo e fazendo perguntas que parecem ter vindo dos anos 80, como a ligação de Lula com os sem-terra. Lula, por sua vez, cobrou propostas de Bolsonaro e tentou marcá-lo como despreparado, mas, mais uma vez, se fiou apenas no seu desempenho como presidente e falou de poucas propostas, salvo momentos como o que falou de parceria com estados e municípios para o desenvolvimento.
A propalada revelação "bombástica" do deputado federal André Janones (Avante-MG) sobre o ex-ministro de Bolsonaro Gustavo Bebbiano, morto no início do governo e abandonado pelo presidente, até o fechamento desta coluna, não tinha aparecido. É mais provável que se tratasse de mais um mecanismo de pressão sobre o adversário, com a ideia de fazer Bolsonaro chegar ao debate desestabilizado. Talvez tenha sido também um plano B de diversionismo para animar as redes sociais caso o petista não se saísse bem no confronto.
Ao final do debate, Bolsonaro cometeu um deslize que deve se tornar meme. Pediu votos para se eleger deputado federal. Pode parecer bobagem, mas não é. Os debates não servem apenas para a audiência ao vivo. As campanhas extraem dali o pior e o melhor dos candidatos. Essa derrapada de Bolsonaro vai alimentar as redes sociais até domingo.
O mais importante de todo este debate, no entanto, aconteceu depois do debate, quando a jornalista Renata Lo Prete arrancou de Bolsonaro a declaração de que ele vai aceitar e respeitar os resultados das urnas. Não é pouca coisa em uma semana em que bolsonaristas cogitaram até adiar as eleições.