Tarcísio de Freitas (Republicanos) chegou ontem ao SBT com a certeza de que seria um alvo fácil no debate. Nos dois últimos dias, seu apoio a Fernando Collor, em Alagoas, repercutiu pesadamente entre os eleitores paulistas. Aos jornalistas, logo na entrada, disse que não calculou o desgaste que sofreria com a declaração. Tarcísio tinha uma carta na mão para atirar contra Rodrigo Garcia (PSDB) e a usou. O governador o havia fustigado a semana toda em razão de suas alianças com candidatos como o deputado que ofendeu uma jornalista e o ex-deputado Eduardo Cunha, hoje candidato pelo PTB paulista. Quando fosse acusado de apoiar um presidente que confiscou a poupança, responderia que Rodrigo confiscou os vencimentos dos aposentados. Isso porque, desde 2020, meio milhão de servidores aposentados são taxados em até 16% graças a um decreto estadual.
A munição de Tarcísio contra Rodrigo não causa muito impacto sobre os servidores. Afinal, seu partido e seu presidente apoiaram uma reforma da Previdência que não deixou nenhum aposentado feliz. Mas o fato é que Tarcísio se preparou para ataques que mal aconteceram. O foco ficou no embate entre Rodrigo e Fernando Haddad (PT).
A disputa entre o petista e o tucano mostra que a questão nacional não norteou o debate entre os candidatos paulistas. Para desagrado dos lulistas, Haddad tem mirado muito mais em Rodrigo do que em Tarcísio, com quem prefere disputar no segundo turno. Para a campanha de Lula, um segundo turno entre Haddad e o tucano deixaria Jair Bolsonaro sem palanque em São Paulo. Num estado em que o bolsonarismo é forte e a rejeição ao PT é grande, essa seria a melhor estratégia para a campanha nacional.
Só que a campanha de Haddad prefere Tarcísio como adversário em um eventual segundo turno. A matemática é a seguinte: os votos de Tarcísio vão, facilmente, para Garcia. Os votos do governador não vão com essa facilidade para o bolsonarista. Uma parte pode fazer uma curva e cair no colo de Haddad.
É interessante notar como, a essa altura do jogo, a briga nacional é colocada de lado para que as questões do estado entrem em campo. Assim, o eleitor ganha mais informação para entender como pensa cada candidato ao governo. E o debate serviu para marcar essas diferenças. É nas pequenas explicações que o eleitor vê como os candidatos se posicionam sobre questões como segurança pública, funcionalismo e economia. Falar que quer mais escolas, mais merenda, mais saúde é o discurso de todos. Imagine um candidato dizendo: quero fechar hospitais e acabar com escolas… A diferença está em como cada um pensa em chegar a esse objetivo e como vai tratar a coisa pública.