O que dá a um jovem estudante de Ceilândia (DF) a confiança para “presentear” sua professora negra, no Dia da Mulher, com uma palha de aço? É a mesma confiança que deixa três adolescentes do interior de São Paulo de gravar um vídeo com o “quiz do dia”: como desmatricular a colega de 40 anos que, para elas, deveria estar aposentada. A colega, na verdade, tem 44 anos.
Criticadas nas redes sociais, as garotas desistiram do curso de Biomedicina. A colega de 44 anos, não. Adulta, tem o couro grosso para continuar lutando. Já o adolescente do DF provou seu machismo chamando os colegas críticos de “beta”. Diferente do macho alfa, o macho beta é, na linguagem dos influenciadores machistas, um homem que se submete às mulheres. É um baita xingamento para quem tem a misoginia como profissão de fé.
Com o bombril na mão, a professora foi sábia: “Eu vou aceitar. Porque tudo que vem volta”.
A cena foi filmada porque o aluno foi até a mesa da professora com um pacote de presente. Queria a espetacularização de sua ofensa. Assim como as garotas acharam que seria legal debochar de uma colega que não era da idade delas. Elas não comentaram o tema entre si. Elas fizeram um vídeo para animar sua audiência.
Hoje não basta ofender. É preciso dar vazão aos sentimentos mais mesquinhos ou banais, aos gestos mais grosseiros. Depois do temido cancelamento digital, os autores dessas ofensas sempre dizem que não esperavam essa repercussão toda. Não esperavam? Mas é exatamente o que buscavam.
O sujeito que aborda o político na rua, seja ela de qualquer partido, busca essa mesma humilhação pública do outro. O questionamento é feito com a câmera já ligada. Não se pode dizer que é um questionamento, mas um julgamento sumário. O importante é expor e mostrar uma pretensa valentia ao enfrentar uma pessoa poderosa.
Ofender a professora negra da escola pública e a colega caloura da faculdade é diferente. Essas vítimas não são detentoras de nenhuma forma de poder. Não há nessas ações nenhum vestígio de valentia. Só a pura covardia de humilhar uma pessoa e deixar sua marca grosseira na internet ou na sala de aula.
É a humilhação como espetáculo. O uso da vítima como “escada” para a pessoa que acredita que vai brilhar muito com sua ideia “boa” de debochar do outro, que pode nem ter notado que sua simples presença incomoda seu agressor.
É difícil entender por que a presença de uma mulher de 44 anos tanto incomodou as adolescentes. Assim como é difícil entender por que um aluno acha legal dar bombril pra professora, uma mulher negra, para dizer que ela deveria estar limpando a cozinha em vez de estar ali, comandando a classe.
Os dois casos são semelhantes porque os ofensores querem dizer a essas duas mulheres que elas estão em um lugar que não é delas.
Vocês avisam ou aviso eu que o lugar delas é onde elas quiserem?