Os recados de Lula para o mercado e para os golpistas das manifestações

Novo ministro da Justiça, Flávio Dino afirma: "presidente sainte" vai sair no dia 1º de janeiro e manifestantes estão sendo identificados

13 dez 2022 - 16h41
(atualizado às 16h58)

O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), cunhou um novo apelido para o presidente Jair Bolsonaro: o presidente "sainte". E foi com essa expressão que o novo ministro da Justiça, Flávio Dino, deu o recado de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o adversário e para os manifestantes que, no ápice de seu golpismo, tentaram invadir na noite de terça-feira a sede da Polícia Federal, incendiaram carros e tentaram até jogar um ônibus de um viaduto em Brasília.

Lula com Alexandre de Moraes durante diplomação
Lula com Alexandre de Moraes durante diplomação
Foto: Fábio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Nesta terça-feira, no encerramento do trabalho de transição, o novo ministro afirmou que a Polícia Federal vai agir contra essas manifestações, definidas como golpistas e antidemocráticas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). E, mesmo assim, alimentadas sistematicamente pelo presidente Bolsonaro. O presidente, em discurso para seus eleitores, afirmou que as manifestação e ele próprio atuam dentro das "quatro linhas" da Constituição. As cenas de ontem mostram o contrário. Não só ferem artigos da Constiuição ao pedirem golpe contra as eleições, como quebram vários artigos do Código Penal.

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Dino afirmou que o trabalho que não tem sido feito pelas autoridades policiais neste momento será feito sem reservas a partir de 1º de janeiro. "É o imperativo da lei" e, segundo ele, o novo governo não interferirá no trabalho da PF.  "Esses grupos extremistas são cada vez menores, embora cada vez mais radicalizados", disse o novo ministro. "No dia 1º de janeiro, aquilo que não pode ser feito nesses 15, 20 dias, será feito. Não é apenas uma orientação político-democrática. É o imperativo da lei."

"Todas as pessoas estão sendo identificadas", avisou Flávio Dino. E o ministro ainda afirma: "No dia 1º de janeiro, o sainte sai e o entrante entra".

Em seu discurso, Lula acusou Bolsonaro de incentivar os atos antidemocráticos e de não aceitar a derrota popular. "É um governo que se fechou dentro de uma redoma, mas não de vidro. Dentro de uma caixa de fósforos", disse Lula. 

"Ele segue o rito que todos os fascistas seguem", afirmou o petista, que condenou o apoio de Bolsonaro aos manifestantes. "Ontem ele recebeu esse pessoal no Palácio do Alvorada".

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"Nunca aceite ser chamado de ladrão quando você não for", disse o eleito, chamando o ex-juiz Sergio Moro de mentiroso. "Foram cinco anos, não foram cinco dias. Foram vidas destruídas e nós estamos aqui. Estamos aqui de cabeça erguida. E tenho certeza de que meus acusadores não andam de cabeça erguida."

Recado também para o mercado

E foi nesse tom que Lula colocou fogo no parquinho do mercado. Anunciou o petista Aloyzio Mercadante como presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e afirmou que acabaram as privatizações durante o seu governo. A Faria Lima pira.

Com esse gesto, Lula abre o flanco para o desarranjo do mercado, mas já deve ter precificado esse custo. Não é um novato. Desde sua vitória tem sido pressionado a dar satisfações ao mercado. E tem feito uma queda de braço com o setor. Seus auxiliares dizem que, se abaixar a cabeça agora, não conseguirá levantá-la depois. O que não dá é para Lula puxar a carta do passado a todo momento, lembrando que os banqueiros ganharam muito dinheiro em seus dois mandatos anteriores. 

O presidente Lula 3 sabe que os tempos são outros. O país já afundou em nova crise, uma crise que começou ainda na gestão dos petistas. Hoje, o país pede outras soluções. E ele precisa apresentá-las.

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Fonte: Tatiana Farah Tatiana Farah é jornalista de política há mais de 20 anos. É repórter da Agência Brasília Alta Frequência. Foi gerente de comunicação da Abraji, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Repórter do BuzzFeed News no Brasil de 2016 a 2020.  Responsável por levar os segredos do Wikileaks para O Globo, onde trabalhou por 11 anos. Passou pela Veja, Folha de S. Paulo e outras redações, além de assessorias de imprensa. As opiniões da colunista não representam a visão do Terra. 
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