Não adianta se dizer vítima da notícia. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem muito a explicar sobre o escândalo envolvendo joias que seriam dadas de presente para a ex-primeira-dama Michelle. Avaliadas em R$ 16,5 milhões, as joias custam cinco vezes o famigerado triplex do Guarujá atribuído a Lula no auge da Lava Jato.
Segundo revelou o Estadão, as joias foram dadas a Michelle pelo ditador da Arábia Saudita, Mohammad bin Salman, aquele que mandou esquartejar um jornalista que lhe fazia críticas. O presente foi enviado ao Brasil por intermédio de um assessor ministerial que estava em viagem oficial ao Oriente Médio. A Receita Federal deteve as joias e o governo Bolsonaro tentou pegar o presente por três vezes, segundo o jornal.
Na própria documentação divulgada pelos bolsonaristas, é dito que não se sabe se as joias iriam para o acervo da Presidência ou para os cofres do então presidente. Não há lei que impeça Michelle de receber um presente nesse valor. Pois é. Mais uma falha da nossa República tão imperfeita. Qualquer empresa que se preze tem regras claras sobre limite de valor para aceitação de mimos.
Mas não é porque não exista lei que impeça um presente desse tipo que estaria tudo bem a tão moralista primeira-dama receber objetos no valor de R$ 16,5 milhões. É um absurdo.
Pressionado, Bolsonaro mais uma vez se faz de vítima da imprensa e do mundo. "Eu agora estou sendo crucificado no Brasil por um presente que não recebi. Vi em alguns jornais de forma maldosa dizendo que eu tentei trazer joias ilegais para o Brasil. Não existe isso", disse Bolsonaro, da Flórida. "Poderia, no meu entender, a alfândega ter entregue. Iria para o acervo, seria entregue à primeira-dama. E o que diz a legislação? Ela poderia usar, não poderia desfazer-se daqui". Só isso, mais nada, ancorou-se Bolsonaro na falta de uma lei que controle esses presentes.
Michelle Bolsonaro diz que até riu ao ver o noticiário sobre as joias. Deveria ter chorado. É uma vergonha, assim como é uma vergonha mandar raspar o fundo do lago de peixes do Alvorada para pegar as moedinhas que os turistas atiram ali, como tradição.
Em 2003, em viagem aos Emirados Árabes, a então primeira-dama do Brasil, dona Marisa Letícia, recebeu joias de presente. Já foi logo avisando que não ficaria com elas e as colocaria no acervo de bens do Alvorada. Dona Marisa não queria sequer aceitar o presente, mas foi aconselhada pelos diplomatas a não fazer desfeita ao governo dos Emirados. Só que ali tudo foi muito claro. Não havia joia nenhuma tentando passar despercebida pela Alfândega.
O moralista governo Bolsonaro, que publicamente chamou Lula de ladrão, corrupto, “descondenado” e ex-presidiário, tem que dar muitas explicações agora à Polícia Federal. Dizer que está sendo “crucificado” não passa de trololó ou, como eles gostam de dizer, mimimi.