Comentarista da CNN é agredido por bolsonaristas no QG do Exército; vídeo

Profissional de imprensa teve que sair escoltado pelo Exército

30 dez 2022 - 17h29
(atualizado às 18h00)
Nelson Garrone
Nelson Garrone
Foto: Reprodução/Twitter

O jornalista Nelson Garrone, comentarista da CNN de Portugal, foi alvo de agressões de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) nesta sexta-feira, 30. Ele foi hostilizado por uma multidão de bolsonaristas ao tentar uma entrevista no acampamento montado por eles no Quartel General do Exército, em Brasília.

Ao saberem que ele é da imprensa, os apoiadores do atual governo deram chutes em Garrone e no cinegrafista que o acompanhava e chegaram a derrubar os dois. O comentarista conta que ficou com um ferimento no braço após o ataque e teve que sair acompanhado escoltado pelo Exército.

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Garrone trabalha para a CNN e para emissora portuguesa TVI, que no país fazem parte do mesmo grupo. De acordo com ele, o foco do seu trabalho é acompanhar a ida do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Souza, à posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como novo presidente do Brasil.

"Eu fui em uma missão de mostrar o que está acontecendo. Depois da live do presidente Bolsonaro, fui lá, cheguei, estava com um microfone da TVI e a única que pergunta que eu fiz foi: "O que está acontecendo? Pode me explicar o que está acontecendo?". Só fiz essa pergunta e comecei a conversar com uma senhora e já não deu para ouvir a resposta dela. Começaram a gritar: 'fora, fora, fora', foi aquela: a imprensa manipula, comunista e tal", declarou o Garrone ao Estadão.

"Me deram uma voadora (uma espécie de chute), caí no chão, deram uma voadora no cinegrafista, que caiu no chão. O importante dessa história é que o pessoal do Exército estava lá e acolheu, protegeu a gente, a gente entrou em um carro e saiu escoltado. Rasgaram dois pneus e a gente teve que sair com dois pneus furados até conseguir trocar. O Exército agiu muito institucionalmente, protegeram a gente, rolou gás de pimenta", afirmou.

O grupo bolsonarista está reunido no local desde quando o presidente perdeu a reeleição para o petista. Eles têm ecoado um discurso golpista de intervenção militar para impedir que o petista tome posse. De lá, saíram dois episódios recentes envolvendo violência em Brasília. Integrantes do acampamento promoveram um quebra-quebra na capital federal no dia 12 de dezembro e uma pessoa do grupo tentou explodir uma bomba nas imediações do aeroporto da cidade no último dia 24, véspera de Natal.

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Nesta sexta, na véspera do fim do mandato, Bolsonaro fez uma live nas redes sociais em que declarou que "nada justifica" o que chamou de "tentativa de ato terrorista" em Brasília, disse que "foi difícil" se manter calado por dois meses e reconheceu, pela primeira vez, que seu "opositor", Lula, tomará posse a partir deste domingo, 1.º de janeiro.

Decepcionados, dezenas de apoiadores pediram, nos comentários da live, a aplicação do artigo 142 da Constituição. O dispositivo tem sido citado desde as eleições como uma suposta forma de manutenção do poder de Jair Bolsonaro. Em uma interpretação deturpada da Constituição, bolsonaristas creem que o trecho permite intervenção das Forças Armadas sobre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

"Eu tive esse cuidado de fazer só uma pergunta: 'o que está acontecendo?'. Uma pergunta que é bem ampla, sem qualquer viés, sem adjetivar, nada. Tentei conversar. Eu nem dei destaque. Acabei de fazer um ao vivo, contei essa história no ar, mas são aquelas pessoas, não é uma questão gigante, pelo menos para mim. Não é a dimensão", explicou o comentarista.

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