Congresso cobra Bolsonaro para demitir Ernesto Araújo

Presidente dá sinais de que dispensará Filipe Martins para manter chanceler, mas Pacheco avisa que só isso não vai apaziguar os ânimos

27 mar 2021 - 05h10
(atualizado às 08h41)

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), avisou na sexta-feira, 26, o presidente Jair Bolsonaro de que o Congresso não dará trégua enquanto não houver a troca do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Contrariado com as insistentes cobranças para demitir o chanceler, Bolsonaro foi conversar com Pacheco na residência oficial do Senado, mas admitiu disposição de dispensar agora somente o assessor especial para Assuntos Internacionais, Filipe Martins.

Foto: Marcos Corrêa/PR

O senador disse ao presidente, porém, que essa mudança não será suficiente para apaziguar os ânimos porque há uma avaliação generalizada de que Araújo é responsável pelo fracasso das negociações internacionais para a compra de vacinas contra a covid-19. Bolsonaro discorda e não quer agir sob pressão, ainda mais depois que o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), deu a ele um ultimato.

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O Estadão apurou, no entanto, que a sobrevida de Araújo não deve durar muito. Nos bastidores, a ala militar do governo tenta convencer o presidente a substituir o chanceler, e não apenas transferir Martins para outro cargo, como ele planeja. O movimento de entregar a cabeça do assessor seria justamente para segurar o ministro.

Na quarta-feira, quando Araújo participava de uma audiência no Senado, Martins fez um gesto considerado ofensivo. No momento em que Pacheco falava, o assessor de Bolsonaro formou um círculo com o polegar unido ao indicador e deixou os outros três dedos esticados. Senadores associaram a atitude ao símbolo de supremacistas brancos, já que o gesto representaria as letras WP (White Power). Martins negou e disse que estava apenas ajeitando o paletó. A atitude é objeto de investigação pela Polícia Legislativa do Senado.

Bolsonaro chegou para a conversa com Pacheco logo após o senador ter feito o primeiro encontro virtual com governadores para tratar das ações que serão tomadas pelo comitê nacional de enfrentamento à covid-19. A reunião foi marcada por críticas ao modelo do comitê criado nesta semana, um ano após o início da pandemia, e cobranças por mais vacinas e leitos.

Na avaliação de governadores, apesar do discurso de "união nacional", o presidente continua em confronto com medidas adotadas por Estados e municípios, como o distanciamento social. Araújo, por sua vez, é visto por governadores e prefeitos como um ministro que tem atrapalhado as iniciativas de combate ao coronavírus.

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Após o encontro com Bolsonaro, Pacheco afirmou que pediu ao presidente mudanças para fazer o Ministério das Relações Exteriores funcionar. "A permanência ou a saída do ministro, de qualquer que seja ele, cabe ao presidente. O que nos cabe (...) é cobrar e fiscalizar as ações do ministério", argumentou. "E consideramos que a política externa do Brasil ainda está falha, precisa ser corrigida. É preciso melhorar a relação com os demais países, inclusive com a China, porque é o maior parceiro comercial do Brasil".

Crítico de Bolsonaro e seu possível adversário na eleição de 2022, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), não participou da reunião com Pacheco. Doria escalou para o encontro o vice-governador Rodrigo Garcia. No mesmo horário, o tucano dava entrevista para anunciar o desenvolvimento de uma vacina produzida em São Paulo pelo Instituto Butantan. No ano passado, Bolsonaro chegou a se referir à Coronavac como "a vacina chinesa do Doria".

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