Congresso do PSDB vai marcar guinada do partido à direita

Partido busca aproximação do eleitor que votou em Bolsonaro no ano passado, mas mantém posicionamento crítico ao governo

7 dez 2019 - 05h41
(atualizado às 12h12)

O "novo" PSDB preconizado pelo governador de São Paulo, João Doria, vai formalizar neste sábado (7), durante seu congresso nacional em Brasília, uma mudança programática que afasta o partido da origem social-democrata e aproxima a legenda do eleitorado de direita e conservador que elegeu o presidente Jair Bolsonaro no ano passado.

Nas semanas que antecederam o evento, o partido promoveu uma consulta prévia pela internet para ouvir a militância tucana a respeito de temas sobre os quais a sigla vai se posicionar oficialmente. A ideia é que o resultado da enquete sirva de base para a votação dos 700 delegados esperados no evento.

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João Doria, governador de São Paulo.
João Doria, governador de São Paulo.
Foto: Roberto Casimiro / Foto Arena / Estadão Conteúdo

Depois de acolher dissidentes bolsonaristas como o deputado Alexandre Frota (SP), o empresário Paulo Marinho e o advogado e ex-ministro Gustavo Bebianno, o PSDB agora vai abraçar bandeiras que ajudaram a eleger o presidente, como a redução da maioridade penal para 16 anos em caso de crimes hediondos, o fim da estabilidade para servidores públicos e o pagamento de mensalidade em universidades públicas.

Embora busque se aproximar do eleitor que elegeu Bolsonaro, o partido vai marcar uma posição crítica e de afastamento do governo. Principal quadro do PSDB, Doria projeta uma disputa com o presidente pelo eleitor conservador na corrida presidencial de 2022.

"O PSDB terá mais a cara do Doria, das novas lideranças e da militância. É o momento de posicionamento e modernização", afirmou o presidente do diretório paulista do PSDB, Marco Vinholi, aliado do governador. O dirigente tucano ponderou, entretanto, que o partido vai defender temas que, de acordo com ele, estão distantes da agenda bolsonarista, como a defesa da democracia e das liberdades individuais.

No campo econômico, a sigla pretende encampar as reformas patrocinadas pela equipe econômica do governo federal e defender as privatizações e concessões, algo que destoa do ideário de fundação do PSDB.

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Procurado pela reportagem, Doria respondeu apenas que o congresso estabelece "um novo posicionamento do PSDB" sobre temas brasileiros no plano social e econômico.

A relação dos tucanos com o governo Bolsonaro provoca divergências no partido, especialmente na bancada de deputados federais. Enquanto uma ala da legenda prega uma proximidade estratégica e aceita a presença de tucanos na administração federal, um outro grupo defende o apoio às reformas, mas o distanciamento total no campo político.

"Nós somos oposição e isso é claríssimo. É óbvio que apoiamos as reformas, mas você acha que temos algo a ver com esse discurso do AI-5?", afirmou o ex-senador José Aníbal, que coordenou o grupo de trabalho sobre a relação com o governo.

Durante a preparação do encontro, houve um tensionamento nos bastidores entre os "doristas" e o grupo que tenta reduzir a força do governador na máquina partidária. Aliados de Doria temiam que diretórios estaduais mobilizassem militantes para vaiar o governador paulista e, em reação, ameaçaram levar uma claque para blindá-lo. O presidente do partido, Bruno Araújo, teve de intervir para apaziguar os ânimos.

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Presenças no evento

Pelo programa do congresso, Doria será o principal orador do evento. Além dele estarão presentes os governadores Eduardo Leite (RS) e Reinaldo Azambuja (MS) e prefeitos tucanos e militantes de grupos temáticos como LGBT, negros e mulheres.

Fundado em 1988, o PSDB surgiu de uma dissidência do MDB como uma sigla social-democrata e liberal.

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