“Constrangida” por escândalos de corrupção, Marta deixa o PT

Em carta, senadora disse que foi isolada e estigmatizada pela direção de seu partido

28 abr 2015 - 15h32
(atualizado às 17h36)
Marta alega que a legenda renega seus princípios de forma “reiterada e persistente”
Marta alega que a legenda renega seus princípios de forma “reiterada e persistente”
Foto: Léo Pinheiro / Terra

A senadora Marta Suplicy apresentou nesta terça-feira (28) sua carta de desfiliação do Partido dos Trabalhadores (PT) ao Diretório Municipal de São Paulo. No texto, a congressista diz estar constrangida com o "protagonismo" da legenda em escândalos de corrupção e reclama de isolamento e cerceamento de sua atividade parlamentar.

“Vivencio o dia mais difícil e o pior momento de minha vida política. Como membro do PT, encontro-me em uma situação bastante constrangedora na bancada do plenário do Senado. Tenho me furtado a discursar e emitir minhas opiniões por me negar a defender um partido que não me representa”, escreveu a senadora, em um texto de quatro páginas.

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Na abertura da carta, a senadora paulista cita o atual momento vivido pela legenda, com o escândalo de corrupção da Petrobras. “É de conhecimento público que o Partido dos Trabalhadores tem sido o protagonista de um dos maiores escândalos de corrupção que a nação brasileira já experimentou, sendo certo que mesmo após a condenação de altos dirigentes, sobreviveram novos episódios a envolver a sua direção nacional”, diz.

“Para mim, como filiada e mandatária popular, os crimes que estão sendo investigados e que são diária e fartamente denunciados pela imprensa constituem não apenas motivo de indignação, mas consubstanciam um grande constrangimento.”

Ex-prefeita de São Paulo e ex-ministra dos governos Lula e Dilma, Marta alega que a legenda renega seus princípios de forma “reiterada e persistente”. Ela diz que foi isolada na tentativa de mudar o quadro atual do partido.

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“Ao tentar empenhar-me numa linha de providências, fui isolada e estigmatizada pela direção do meu partido. Percebi que o Partido dos Trabalhadores não possui mais abertura nem espaço para o diálogo com suas bases e seus filiados dando mostras reiteradas de que não está interessado, ou não tem condições, de resgatar o programa para o qual foi criado, nem tampouco recompor seus princípios perdidos.”

A senadora ainda não divulgou quando deve se filiar a um novo partido. O PSB é o mais cotado para receber a ex-prefeita, que deve concorrer nas eleições municipais de 2016.

Marta Suplicy explica os motivos que a levaram a sair do PT
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Leia a carta na íntegra:

É de conhecimento público que o Partido dos Trabalhadores tem sido o protagonista de um dos maiores escândalos de corrupção que a nação brasileira já experimentou, sendo certo que mesmo após a condenação de altos dirigentes, sobreviveram novos episódios a envolver a sua direção nacional.

No meu sentir e na percepção de toda a nação, os princípios e o programa partidário do PT nunca foram tão renegados pela própria agremiação, de forma reiterada e persistente.

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Para mim, como filiada e mandatária popular, os crimes que estão sendo investigados e que são diária e fartamente denunciados pela imprensa constituem não apenas motivo de indignação, mas consubstanciam um grande constrangimento.

Aqueles que, como eu, acreditam nos propósitos éticos de sua carta de princípios, consolidados em seu programa e em suas resoluções partidárias, não tem como conviver com esta situação sem que essa atitude implique uma aceitável conivência.

Ao tentar empenhar-me numa linha de providências, fui isolada e estigmatizada pela direção do meu partido. Percebi que o Partido dos Trabalhadores não possui mais abertura nem espaço para o diálogo com suas bases e seus filiados dando mostras reiteradas de que não está interessado, ou não tem condições, de resgatar o programa para o qual foi criado, nem tampouco recompor seus princípios perdidos.

Hoje o PT se distanciou completamente dos fundamentos que há 35 anos nos levaram a construí-lo com entusiasmo e envolvimento.

Por décadas, acreditei e dei o melhor de mim na perseguição de ideais que, com acertos e erros, não se distanciavam de um norte ético indiscutível e intransigente.

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Hoje, entretanto, não me sinto mais em condições de cooperar com o que não faz mais sentido a mim e a milhões de brasileiros.

A direção do Partido dos Trabalhadores vem restringindo, cerceando e limitando a atuação e desempenho de minhas atividades partidárias e, o que é mais grave, da minha atividade parlamentar oriunda da representação política de meu mandato.

Os fechamentos de espaços são muitos, com acontecimentos e constrangimentos públicos que envolvem situações e      ações que, no passado recente, chegaram ao limite de colocar em risco minha eleição como senadora pelo Estado de São Paulo nas eleições de 2010.

É de conhecimento público que o Partido dos Trabalhadores tem sido o protagonista de um dos maiores escândalos de corrupção que a nação brasileira já experimentou, sendo certo que mesmo após a condenação de altos dirigentes, sobreviveram novos episódios a envolver a sua direção nacional.

Vivencio o dia mais difícil e o pior momento de minha vida política. Como membro do PT, encontro-me em uma situação bastante constrangedora na bancada do plenário do Senado. Tenho me furtado a discursar e emitir minhas opiniões por me negar a defender um partido que não me representa, assim como milhões de brasileiros que nele um dia acreditaram. Situação sem sentido que não tenho mais condições de deixar perdurar.

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Serei fiel ao meu mandato e permanecerei depositária dos valores defendidos por aqueles que votaram em mim, hipotecaram sua confiança pessoal, e abraçaram as ideias que defendo desde a época em que me tornei pessoa pública em programa diário de TV onde sempre me pautei por princípios éticos inegociáveis.

Até onde pude, tentei reverter essa situação. Não fui ouvida. Não tenho compromisso com os reiterados desvios programáticos e toda sorte de erros cometidos.

Minha atuação como senadora não pode ser isolada. Todo parlamentar precisa de um partido e o partido se expressa por meio de seus representantes eleitos.

Para quem é mandatária, como sou, eleita legitimamente por mais de 8 milhões de votos, resta-me a certeza de que minha prioridade é a fidelidade ao mandato que me foi outorgado pelo povo do Estado de São Paulo.

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Como o exercício de meu mandato vem sendo claramente cerceado, em seu nome e em sua defesa, como representante popular, sinto-me na responsabilidade e no dever de agir neste sentido.

Diante do exposto, é presente a petição para REQUERER A MINHA DESFILIAÇÃO DO PARTIDO DOS TRABALHADORES – PT, a partir desta data.

São Paulo, terça-feira, 28 de abril de 2015

Marta Teresa Suplicy

Fonte: Terra
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