CPI da Covid aponta sinais de atuação irregular da Belcher

A Belcher atuou na tentativa de vender 60 milhões de doses da Convidecia, produzida pelo laboratório chinês CanSino, ao Ministério da Saúde

24 ago 2021 - 17h04
(atualizado às 17h24)

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid confrontou o empresário Emanuel Catori, sócio da Belcher Farmacêutica, com informações que levantam suspeitas sobre a atuação da empresa ao negociar com o Ministério da Saúde.

Emanuel Catori é mais um personagem da CPI que tentou vender vacinas para o governo federal e tem ligações com o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). A Belcher atuou na tentativa de vender 60 milhões de doses da Convidecia, produzida pelo laboratório chinês CanSino, ao Ministério da Saúde.

Publicidade
Sócio da farmacêutica Belcher, Emanuel Catori
Sócio da farmacêutica Belcher, Emanuel Catori
Foto: Edilson Rodrigues / Agência Senado

Durante o depoimento na comissão, Catori não quis revelar os termos da negociação com a CanSino, evocando o direito ao silêncio decidido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O vice-presidente de Negócios Internacionais da empresa chinesa, Pierre Morgon, afirmou ao jornal Valor Econômico que a empresa de Catori tentou negociar uma comissão para intermediar a negociação.

A fabricante rompeu os contatos alegando uma série de "delitos" da Belcher, investigada em uma operação no Distrito Federal. Após os senadores apontarem contradição entre o depoimento e a afirmação do laboratório chinês, Catori insistiu no silêncio sobre o valor "comissionamento", mas admitiu a tentativa. "Claramente eu estaria ganhando uma comissão na questão da venda. Eu não estaria trabalhando de graça", disse.

A negociação do governo com a Belcher segue o mesmo roteiro observado em outras duas vacinas na mira da CPI, a Covaxin e a Sputnik V: vacinas mais caras produzidas por laboratórios internacionais e negociadas por meio de intermediários no Brasil, com elos com Ricardo Barros. E isso após o governo Bolsonaro adotar uma postura mais fechada com outros agentes, como a Pfizer e o Butantan.

A palavra "comissionamento" chamou atenção dos parlamentares. Os senadores lembraram imediatamente da atuação de representantes da Davati, que ofereceram vacinas sem comprovar a capacidade de doses e acusaram o governo de pedir propina. "Mais uma semelhança com o Dominghetti, uma comissão por dose", disse o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL).

Publicidade
Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se