A CPI da Covid pode se estender até o fim de outubro no Senado, mas, com apenas cinco depoimentos prestados aos senadores que compõem o colegiado, o relator Renan Calheiros (MDB-AL) já reúne ao menos sete revelações que podem comprometer o governo Jair Bolsonaro, alvo dessa primeira fase dos trabalhos. A comissão foi criada para investigar erros e omissões do governo federal no enfrentamento da pandemia
Da tentativa de se alterar a bula da cloroquina por meio de decreto presidencial ao desprezo pela oferta de vacinas feita de pela farmacêutica Pfizer em setembro de 2020, as informações prestadas pelos ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich; pelo atual chefe da pasta, Marcelo Queiroga, pelo diretor-geral da Anvisa, Antônio Barra Torres, e pelo ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten colocaram o governo Bolsonaro em alerta com as consequências práticas que a CPI pode ocasionar.
Nesta quarta-feira, 12, Wajngarten chegou a ter um pedido de prisão feito por Renan negado pelo presidente da CPI, Omaz Aziz (PSF-AM) Diante da inércia da tropa governista em questionar de forma contundente a afirmação do relator de que o publicitário havia mentido em seu depoimento, o senador Flavio Bolsonaro (Republicanos-RJ) subiu o tom, quebrou decoro e chamou o relator de "vagabundo".
Tratamento precoce, ausência de campanhas para orientar a população, existência de um "aconselhamento paralelo" e cloroquina e demora na compra de vacinas. Veja as principais revelações da CPI até agora:
Tratamento precoce
O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta afirmou que o presidente Jair Bolsonaro o chamou para uma reunião no Palácio do Planalto para debater a possibilidade de se alterar a bula da cloroquina via decreto. A intenção seria garantir que o medicamento sem comprovação científica para o combate à covid-19 pudesse ser usado no tratamento dos doentes.
Carta sem resposta
O ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten afirmou aos senadores que se reuniu três vezes com representantes da farmacêutica Pfizer, entre novembro e dezembro de 2020, para tentar viabilizar a compra de vacinas depois de tomar conhecimento que uma carta enviada pela empresa ao governo com oferta de imunizantes não havia sido respondida. Ele apresentou o documento, recebido dois meses antes e que ficou sem resposta.
Campanha contra isolamento
Wajngarten, por diversas vezes, negou ter autorizado a veiculação da campanha "O Brasil não pode parar", que defendia a flexibilização do isolamento social e foi suspensa por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) ainda em março de 2020. O relator da CPI da Covid, Renan Calheiros, porém, mostrou as postagens oficiais feitas pelo governo. A resposta do publicitário gerou o pedido de prisão dele pelo relator.
Carta enviada a Bolsonaro pode indicar omissão
Mandetta disse que antes de ser demitido, em abril de 2020, enviou uma carta ao presidente Bolsonaro alertando sobre a necessidade de se apoiar o isolamento social no País para conter o avanço do novo coronavírus. Na época, assim como agora, Bolsonaro criticava as medidas de restrição impostas por governadores e prefeitos. Mensagem não foi respondida.
Dados inflados de vacinas
O ministro de Saúde, Marcelo Queiroga, reconheceu em seu depoimento, após insistência dos senadores, que divulgou um número inflado de vacinas já contratadas pela pasta, conforme revelado pelo Estadão. Anunciou 560 milhões e depois corrigiu para 430 milhões.
Bolsonaro contraria Anvisa
Durante seu depoimento, o diretor-geral da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, afirmou ter se arrependidode ter participado de manifestação, sem máscara, ao lado do presidente em março de 2020. Disse também que Bolsonaro vai contra as normas sanitárias que a Anvisa preconiza ao promover aglomerações, não usar máscara e indicar tratamento precoce.
'Aconselhamento paralelo'
Mandetta ainda afirmou em seu depoimento que o presidente mantém um "aconselhamento paralelo" para assuntos relacionados à pandemia. Esse grupo de conselheiros incluiria o filho Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), médicos que defendem a cloroquina e até mesmo Wajngarten, já que o ex-chefe da Secom chegou a se reunir com a farmacêutica Pfizer para negociar vacinas, em ação que não fazia parte de suas funções no governo.